Em 1932, a Nação Paulista foi balançada pela Guerra contra o ditador Getúlio Vargas. Já falamos muito disso na nossa página e hoje trazemos 15 curiosidades sobre esse enfrentamento entre São Paulo e o Brasil. Nossas informações foram recolhidas a partir daquilo pesquisado pela nossa equipe em livros, mas também junto ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo, assim como na Edição de 80 anos da Guerra Paulista da Revista Brasil Histórico e também na reportagem do Extra do ano de 2010.
(A foto que abre essa postagem foi colorizada pelo Reinaldo Elias da página Colorizando o Passado)
1. A HERANÇA NOS SÍMBOLOS
Obelisco do Ibirapuera, também Mausoléu dos Heróis Paulistas
As duas principais avenidas que ligam a Capital Paulista de norte a sul levam nomes de importantes datas relacionadas a essa guerra. A primeira, 23 de Maio, lembra a data do tiroteio que matou 5 jovens e feriu dezenas. Quatro desses jovens deram nome à sociedade secreta que preparou São Paulo para o conflito, a MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). A segunda, 9 de Julho, marca a data em que a Nação Paulista declarou guerra ao Brasil em 1932. Ademais, nenhum logradouro público na capital e em várias cidades paulistas recebe o nome do tirano Getúlio Vargas, ao contrário de outras grandes cidades no Brasil.
2. AS TRANSMISSÕES DE RÁDIO
César Ladeira, a Voz da Revolução, do site Rádio Em Revista
Durante o conflito, as transmissões mais importantes das emissoras radiofônicas paulistas - Record e Cruzeiro do Sul - eram feitas entre as 2h e 4h da madrugada, pois nesse horário as ondas alcançavam maior distância, sendo possível que constitucionalistas noutros lugares da América Portuguesa pudessem ouvi-las.
Credo - poema de Guilherme de Almeida
3. O JOVEM MÁRTIR
Aldo Chioratto no livro Cruzes Paulistas
A vítima mais jovem do conflito tinha apenas 9 anos. O bravo escoteiro Aldo Chioratto era mensageiro das tropas paulistas e foi morto durante o bombardeio em Campinas feito pelas forças brasileiras. Seus restos mortais repousam no Mausoléu Constitucionalista, na cidade de São Paulo.
5. O APOIO DOS COLONOS
Defesa constitucionalista às margens do Rio Jaguary
Todas as colônias estrangeiras estabelecidas em São Paulo se esforçaram para ajudar a causa paulista, inclusive a japonesa. Soldados nisseis integraram as tropas paulistas e colonos do Oeste Paulista doaram provisões.
6. A CAMPANHA DO OURO
Os constitucionalistas lançaram a campanha «Ouro para o bem de São Paulo» para arrecadar fundos que pudessem financiar a guerra. Numa mostra de abnegação, casais doaram suas alianças de casamento, profissionais doaram seus anéis de formatura e muitas pessoas doaram suas joias pessoais para que São Paulo saísse vitorioso.
«Todo Paulista sabe ser pobre como Jó, para com esta pobreza alcançar a riqueza maior, a riqueza melhor, a riqueza gloriosa, a riqueza suprema, a única riqueza que São Paulo quer: a Vitória!!» - César Ladeira
«Todo Paulista sabe ser pobre como Jó, para com esta pobreza alcançar a riqueza maior, a riqueza melhor, a riqueza gloriosa, a riqueza suprema, a única riqueza que São Paulo quer: a Vitória!!» - César Ladeira
7. A ABNEGADA VIÚVA
Cartaz da Campanha do Ouro
Mesmo residindo no Rio de Janeiro, Maria Augusta Viana Barbosa, a viúva de Rui Barbosa, enviou sua aliança de casamento para a campanha do ouro. Criticada, declarou que se o marido estivesse vivo, faria o mesmo.
8. A RETAGUARDA FEMININA
Mulheres distribuem refeições para soldados em Cruzeiro - Acervo MIS
As mulheres de todas as classes sociais participaram ativamente da luta por São Paulo, servindo ao ideal com tudo que podiam, oferecendo uma intensa e poderosa retaguarda ao movimento. Juntas, auxiliavam os civis vitimados pela contenda, atendiam os combatentes na Casa do Soldado, davam assistência à família dos que lutavam, administravam a Campanha do Ouro e fabricavam capacetes e roupas para os soldados. Graças a elas, nenhum paulista padeceu de frio naquele rigoroso inverno de 1932. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo do outro lado, posto que lutavam abandonados à própria sorte.
9. AS MULHERES NO FRONT
Maria José Bezerra
Maria Sguassábia
Até onde se sabe, três mulheres participaram diretamente dos combates nas frentes de batalha. Francisca das Chagas Oliveira, Maria Sguassábia e Maria José Bezerra. As duas últimas haviam se disfarçado de homem para que pudessem lutar por São Paulo. Mesmo após terem sido descobertas, foram admitidas no pelotão e se mostraram muito importantes para o lado paulista.
10. O LEGADO FEMININO
Carlota Pereira de Queirós
A participação feminina massiva na Revolução, tanto no front de batalha quanto nas frentes de apoio aos combatentes, deu combustível à luta pelo voto feminino. A primeira mulher a se eleger deputada na América Portuguesa foi Carlota Pereira de Queirós, que havia liderado a União Cívica Feminina e atuado como médica durante a guerra.
11. A PARTICIPAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
Mulher revisando a fabricação de capacetes
A FIESP promoveu um esforço de guerra para a produção de artigos militares. Durante três meses, a força-tarefa chegou a produzir mais de 130 mil granadas de mão, 400 bocas de fuzil, 5 trens blindados, inúmeros morteiros, minas, explosivos e periscópios de trincheira. No auge da produção, mais de 200 mil eram produzidos.
12. A AJUDA DA POLITÉCNICA
O trem blindado que atuou no setor da Mogiana
Nas oficinas ferroviárias paulistas, sob supervisão da Politécnica, foram construídos mais 4 trens blindados. Até UMA LANCHA BLINDADA foi fabricada para patrulhar o rio Grande, na fronteira com Minas. Outros veículos blindados, como carros de assalto de 14 toneladas, foram construídos sobre tratores.
13. A DOR DOS QUE FICARAM
Dona Hermelinda, filha de Camargo
O jovem Antônio Américo Camargo (o C do MMDC) que foi morto no dia 23 de Maio de 1932 tinha uma filha de apenas meses de idade. A hoje senhora Hermelinda conta que não assiste TV durante a Semana Paulista e nem passa pela Rua Barão de Itapetininga para que não sofra mais com a perda do pai - que nunca conseguiu superar.
14. OS INDEPENDENTISTAS NO MOVIMENTO
Imagem de Harley Vidor
Embora o movimento constitucionalista não pregasse a independência de São Paulo, havia um grande número de independentistas que participavam dele, desde artistas e intelectuais de prestígio até lideranças. Entre os ilustres estão os escritores José Alcântara Machado (autor de «Vida e Morte do Bandeirante») , Monteiro Lobato, Mário de Andrade e Guilherme de Almeida, o historiador Alfredo Ellis Junior e o então presidente do Tribunal de Justiça, Costa Manso. Após o fim da guerra, muitos deles foram perseguidos pelo ditador Getúlio Vargas.
15. A TRISTEZA DO POETA
(Mário de Andrade)
Mário de Andrade caiu em depressão após a derrota de São Paulo. O escritor jamais conseguiu se conformar com a sucessão de humilhações impostas à Nação Paulista, que considerava seu único país. Durante essa época, declarou sua mais célebre frase «Eu faria tudo, daria tudo para São Paulo se separar do Brasil.».
O FIM DA GUERRA
Sobre essa Guerra, declarou o gaúcho João Neves da Fontoura, absorto na ilusão do Brasil unido, achando que o Rio Grande do Sul ajudaria São Paulo:
«O espetáculo de São Paulo em armas entusiasmaria mesmo os céticos. Há uma estranha beleza nesta metamorfose marcial. Um povo de trabalhadores despe a blusa e veste a farda. Tudo aqui deslumbra a imaginação mais ardente. O movimento que esta hora se espraia por cinco frentes de batalha tem tais características de ordem e disciplina que diríamos assistir apenas a uma parada patriótica. O delírio do poder já juncou de cadáveres este solo fecundo. Falei com muitos por cujos lares a morte traçou o signo das primeiras desventuras. Ninguém entretanto amaldiçoa o sacrifício que tem alguma coisa de religioso. Grande e belo Brasil que assim enrija a fibra de seus filhos para a inevitável amargura do sofrimento. E pensar a gente que testemunha uma luta civil, ingrata pugna de irmãos criada apenas pelas vaidades de mando, pela mediocridade de artifícios subalternos, prolongando o exercício do poder discricionário além dos limites naturais, na displicência de quem se quisesse eternizar na comodidade da casa alheia. Como se iludem os escassos defensores do Catete quando, arrogantes e impermeáveis ao senso comum, acreditam poder dominar os insurrectos pelas armas. Os caporais da ditadura esforçam-se a apregoar: 'isto aqui é um motim de políticos ambiciosos'. Decididamente Júpiter enlouquece primeiro os indivíduos que deseja perder. A mesma incompreensão do fenômeno político, a mesma estreiteza de vistas, o mesmo horizonte oficial confinado entre os muros do mesmo palácio. O chefe do governo provisório supõe deslustrar o ímpeto de 9 de julho, escrevendo em seu manifesto que ele procede da reação dos vencidos de outubro. Mas, reparai brasileiros na insensatez da afirmativa oficial. Confrontai-a com a evidência dos fatos e tirai as conclusões devidas. Paulistas, o Rio Grande do Sul desperta do choque inibitório e se levanta. Esperai, resisti, confiai!»
Esse conflito tão esquecido pelos paulistas foi muito importante na história da América Portuguesa. Ele mostrou que há um povo que permanece unido diante das adversidades. Mostrou que os Paulistas se unem, independente da cor, do sexo, da sexualidade, da classe social e de qualquer outra divisão mundana em nome dum mesmo ideal de justiça e liberdade. Mesmo que muitos Paulistas tenham se equivocado ao querer permanecer no Brasil, o sacrifício foi correto e deve ser louvado. É preciso que valorizemos mais a abnegação daqueles que nos antecederam e que honremos esse sentimento de defender a Nação Paulista a qualquer custo!
- Lucas Pupile
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Sobre essa Guerra, declarou o gaúcho João Neves da Fontoura, absorto na ilusão do Brasil unido, achando que o Rio Grande do Sul ajudaria São Paulo:
«O espetáculo de São Paulo em armas entusiasmaria mesmo os céticos. Há uma estranha beleza nesta metamorfose marcial. Um povo de trabalhadores despe a blusa e veste a farda. Tudo aqui deslumbra a imaginação mais ardente. O movimento que esta hora se espraia por cinco frentes de batalha tem tais características de ordem e disciplina que diríamos assistir apenas a uma parada patriótica. O delírio do poder já juncou de cadáveres este solo fecundo. Falei com muitos por cujos lares a morte traçou o signo das primeiras desventuras. Ninguém entretanto amaldiçoa o sacrifício que tem alguma coisa de religioso. Grande e belo Brasil que assim enrija a fibra de seus filhos para a inevitável amargura do sofrimento. E pensar a gente que testemunha uma luta civil, ingrata pugna de irmãos criada apenas pelas vaidades de mando, pela mediocridade de artifícios subalternos, prolongando o exercício do poder discricionário além dos limites naturais, na displicência de quem se quisesse eternizar na comodidade da casa alheia. Como se iludem os escassos defensores do Catete quando, arrogantes e impermeáveis ao senso comum, acreditam poder dominar os insurrectos pelas armas. Os caporais da ditadura esforçam-se a apregoar: 'isto aqui é um motim de políticos ambiciosos'. Decididamente Júpiter enlouquece primeiro os indivíduos que deseja perder. A mesma incompreensão do fenômeno político, a mesma estreiteza de vistas, o mesmo horizonte oficial confinado entre os muros do mesmo palácio. O chefe do governo provisório supõe deslustrar o ímpeto de 9 de julho, escrevendo em seu manifesto que ele procede da reação dos vencidos de outubro. Mas, reparai brasileiros na insensatez da afirmativa oficial. Confrontai-a com a evidência dos fatos e tirai as conclusões devidas. Paulistas, o Rio Grande do Sul desperta do choque inibitório e se levanta. Esperai, resisti, confiai!»
(Soldados no Túnel que fica na fronteira com o Brasil. Colorização feita pelo artista Reinaldo Elias da página Colorizando o Passado)
Esse conflito tão esquecido pelos paulistas foi muito importante na história da América Portuguesa. Ele mostrou que há um povo que permanece unido diante das adversidades. Mostrou que os Paulistas se unem, independente da cor, do sexo, da sexualidade, da classe social e de qualquer outra divisão mundana em nome dum mesmo ideal de justiça e liberdade. Mesmo que muitos Paulistas tenham se equivocado ao querer permanecer no Brasil, o sacrifício foi correto e deve ser louvado. É preciso que valorizemos mais a abnegação daqueles que nos antecederam e que honremos esse sentimento de defender a Nação Paulista a qualquer custo!
- Lucas Pupile
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Ainda iremos comemorar a vitória.
ResponderExcluirCom certeza!!!!
ResponderExcluirSão Paulo independente.
ResponderExcluirMeu avô lutou, foi um pracinha....Revolução Constitucionalista de 1932....
ResponderExcluirCom muito orgulho guardo comigo as medalhas que meu avô recebeu....a aliança que comprova que deu ouro para São Paulo......Orgulho de ser Paulista!!!!...São Paulo, Independente....será que verei??.....não sei....mas que gostaria muito de ver isso....com certeza......
São Paulo tem a magnitude de ser sempre o estado soberano. NON DUCOR, DUCO.
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ResponderExcluirUm povo, um país e um destino. O Brasil não é nada perto da poderosa mão da Justiça; e a liberdade de SP é uma causa justa.
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