sexta-feira, 17 de março de 2017

As Monções Nasceram da Bravura dos Paulistas


Almeida Júnior as retratou num fabuloso quadro chamado «A Partida da Monção», cujo estudo abre este artigo. Nosso mais insigne pintor mergulhou em dois anos de pesquisas antes de começar a pintar a obra final. 

O trabalho mereceu minucioso estudo, pois trataria dum dos episódios que mais são dignos de orgulho aos Paulistas: as Monções, ou seja, as expedições fluviais que mantiveram as comunicações entre a capitania de São Paulo e a do Mato Grosso, tendo sido responsáveis em grande parte pela colonização do centro-oeste da América Lusófona, após o declínio das Bandeiras.

Esse termo, «Monções», foi escolhido por coincidir com o período das viagens de Portugal para o Oriente (de março a abril), a época em que os ventos eram favoráveis a esse tipo de movimentação. (CAVALCANTE, 2011)

Elas se iniciaram em 1718, quando o Bandeirante Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro em Cuiabá, o que iniciou uma nova corrida pelo metal precioso. Posteriormente, essas expedições tornaram-se regulares e o seu objetivo passou a ser também comercial e militar, visando ao abastecimento e defesa dos mineradores de Cuiabá, Vila Bela e demais povoações surgidas em decorrência da mineração. (FERNANDES, 2015)

Por meio das monções, os bovinos foram introduzidos no Mato Grosso. 

O Trajeto

Mapa das Rotas Monçoeiras, de Vinícius Lima

A viagem partia da atual Porto Feliz (antiga Araritaguaba) e seguia pelo Tietê até o rio Paraná, então avançava pelo rio Pardo até os afluentes do rio Paraguai, chegando ao rio São Lourenço, que enfim os deixava no rio Cuiabá. 

Segundo Taunay, fazendo-se as devidas conversões de milhas para quilômetros, os Paulistas percorriam uma distância de 3664 km, incluindo-se o percurso de 155 km de São Paulo até Araritaguaba. 

A seguir a tabela das distâncias revisada a partir de georreferenciamento. (BRAZIL; DANIEL, 2008)


* Taunay apresenta um valor de 3,664 km. ** conversão pela légua brasileira: 6,6 km.

O Legado

Ainda nos dias de hoje, a festa mais tradicional da cidade de Porto Feliz é a Semana das Monções, que acontece quase todos os anos em outubro, na época do aniversário da localidade.


Semana das Monções em Porto Feliz

Apesar de a antiga Araritaguaba ser diferente da atual Porto Feliz, a memória coletiva dos cidadãos ainda guarda muito daquilo que aconteceu. A obra de Almeida Júnior nos faz voltar no tempo para apreciar como tudo se desenrolava. 

No quadro que abre essa postagem, podemos ver, ao fundo, uma paisagem descontínua, que à direita do espectador configura-se como uma mata ribeirinha, e, à esquerda, temos o rio emoldurado em um horizonte enevoado. 

À direita, num plano intermediário, encontramos o sacerdote que abençoa aqueles que partem. Ao seu redor, tanto no primeiro plano quanto ao fundo, temos dois diferentes personagens que ali se encontram para despedir-se dos que se entregam à viagem. 

Do outro lado, à esquerda, num contínuo decrescente entre a margem do rio, no primeiro plano, e as canoas já prontas, nos planos subsequentes, temos os «monçoeiros», onde quase todos dedicam a atenção à benção do pároco. E tudo isso feito por Almeida Júnior, o mestre que conseguia retratar como ninguém os tipos humanos Paulistas, fossem eles dotados de satisfação, tristeza, coragem, heroísmo ou devoção.


«O Vereador vai à Vila», de Belmonte

Para se ter uma noção do quão importante são os Bandeirantes e os Monçoeiros na história da América do Sul, trazemos a declaração do viajante francês Auguste de Saint-Hilaire ao estudar as Bandeiras e as Monções: 

«Depois que se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis dos antigos Paulistas, fica-se como estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes.» (TAUNAY, 2012)

Assim se admiravam os estrangeiros com os Paulistas, pois tais façanhas não encontram similares em qualquer episódio dessa natureza na história de qualquer povo que seja que já tenha habitado esse pequeno Globo. E se os que vinham de fora para presenciar nossa história assim julgavam, por que nós, os Paulistas dos dias de hoje, não devemos ter orgulho do nosso passado e das nossas origens?

É preciso que os Paulistas repensem sua compreensão sobre si próprios para que compreendam que fazem parte duma nação à parte, a nossa Nação Paulista que luta dia a dia para ser livre.


Cronologia Monçoeira:

1718 – Descoberta do ouro em Cuiabá por Pascoal Moreira Cabral
1720  Partida de monção com quatro comboios, dos quais apenas dois chegam às minas de Cuiabá, um deles com gentes e carga de Antônio de Almeida Lara. 
1726  Viagem de ida do governador e capitão-general da capitania de São Paulo, dom Rodrigo César de Meneses (1721-1727), acompanhado por 3 000 pessoas. 
1730  Retorno da monção de 1726. Registra-se ataque dos paiaguás na altura do Xaréu, tendo perecido o ouvidor-geral, Antônio Alves Lanhas Peixoto. 
1751  Partida da monção do governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, dom Antônio Rolim de Moura Tavares. 
1785  Partida da monção que transportou o juiz de fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara Ordoñez e o padre José Manuel de Siqueira. 
1788  Partida da monção do astrônomo e matemático Francisco José de Lacerda, que efetuou observações científicas. 
1800  Partida da expedição militar de Cândido Xavier de Almeida Sousa, que transportou tropas, armamentos e munições para a fronteira sul-matogrossensse. 
1826  Expedição do naturalista russo barão de Langsdorff. 
1858  Última expedição militar, sob o comando do capitão Luís Soares Viegas, transporta armas, munições e petrechos militares para a Província de Mato Grosso.  

Por Lucas Pupile

Bibliografia:

CAVALCANTE, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011.
FERNANDES, Luiz Henrique Menezes. Um Governo de Engonços: Metrópole e Sertanistas na Expansão dos Domínios Portugueses aos Sertões do Cuiabá (1721-1728), 2015.
OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Uma leitura de Partida da Monção de Almeida Júnior. Londrina, 2009.
TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História das Bandeiras Paulistas, 2012. 


sexta-feira, 10 de março de 2017

Sou Caipira, Pira, Pora

Imagem da série «Os Tropeiros» via Tropeiros do Paraitinga


Uma das mais lindas músicas em português - e, quiçá, uma das músicas mais lindas de toda a história -, é paulista. A composição é do Renato Teixeira, Paulista de Santos, e se chama «Romaria». Todo paulista certamente já a ouviu uma vez na vida, pelo menos. Mas caso alguém aqui não a tenha escutado, a escutará agora.

O eu-lírico é um rapaz do campo que expõe seus sentimentos e sua devoção à Nossa Senhora de Aparecida. Ao fazê-lo, conta a sua história e de sua família. Uma das primeiras coisas a falar é que o pai era peão e tinha de sair pra trabalhar a fim de sustentar a casa, deixando solitária sua mãe, que consigo ficava.

Ainda conta que seus irmãos tiveram pobres destinos, tendo ele mesmo se perdido certa vez na vida, não conseguindo muitas conquistas, desacreditando assim na sorte. Mas, apesar de tudo, pede que Nossa Senhora seja seu guia e que lhe ajude a consertar a vida. Roga, ainda, paz quando tiver de sofrer.

A canção retrata o mais fundo da alma dos Paulistas. Desde a necessidade do trabalho à devoção cristã que fez e ainda faz parte da nossa história. O cântico foi capaz de conquistar inúmeros povos de língua portuguesa e encanta mesmo os que não falam nossa língua. «Romaria» foi interpretada e/ou regravada por inúmeros cantores, dentre eles a gaúcha Elis Regina, a paraense Fafá de Belém, a maranhense Alcione, os mineiros Paula Fernandes e Fábio de Melo, a brasiliense Tânia Mara, a baiana Ivete Sangalo, a paulista Maria Rita, o paranaense Michel Teló, o sul-mato-grossense Almir Sater, o português Paulo Bragança e, por fim, os paulistíssimos Daniel, Sérgio Reis e Inezita Barroso, além de outros.Também é possível encontrá-la em castelhano.

Eis a letra do clássico:

«ROMARIA (Renato Teixeira)

É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão, minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

Me disseram, porém, que eu viesse aqui
Pra pedir em romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida»


Interpretações mais famosas: 

Renato Teixeira


Paula Fernandes e Tânia Mara


Fafá de Belém


A Lendária Inezita junto a Renato Teixeira


Que impressões você tem acerca dessa música? Acha que ela retrata a essência devota do caipira? Pensa que ela tem poder de unir os Paulistas à sua origem? Divida as suas opiniões connosco!

Por Lucas Pupile

quarta-feira, 8 de março de 2017

10 Mulheres Paulistas que Mudaram a História


8 de Março é o Dia Internacional da Mulher e a Orgulho de Ser Paulista elegeu 10 Mulheres Paulistas Ilustres que de alguma maneira contribuíram com a Nação Paulista. Aqui temos uma diplomata, duas combatentes, uma pintora, uma política, uma esportista, duas escritoras, uma cantora e uma apresentadora de TV, baseados nas atividades principais de cada uma, já que algumas atuavam em diversas áreas. A escolha foi difícil, pois há muito mais que dez mulheres importantes na nossa história, então tivemos dificuldade pra selecionar apenas dez delas.

Confira a nossa lista e conheça essas valentes pessoas que foram capazes de mudar a realidade em que viviam:

1. Bartira (ca. 1500-1580)


Chamada de Mãe dos Paulistas, esta tupiniquim era o elo entre os portugueses e os nativos do nosso litoral. Filha do valente Cacique Tibiriçá, Bartira, também chamada de Isabel Dias após o batismo cristão, foi casada com João Ramalho, cristão-novo português que chegou a terras paulistas após um naufrágio. Dessa união nasceram os primeiros Paulistas, filhos de dois mundos diferentes. 
Bartira, ao lado do marido, ajudou a manter a paz após a primeira expedição de colonização nos domínios portugueses na América. Seus esforços ajudaram a garantir um começo pacífico e próspero a essas terras, o que possibilitou a existência de todas as outras mulheres dessa lista. 
Dela descendem muitos Paulistas nos dias de hoje. Alguns ilustres pelo mundo carregaram ou carregam seu sangue, como Antônio de Sousa Neto, homem que proclamou a República Rio-Grandense, e também Sílvia Renata Sommerlath, rainha da Suécia desde 1976.

2. Maria José Bezerra (1885-1958)

(Imagem pertencente à Sociedade de Veteranos MMDC, núcleo de Jaguariúna)

Nos idos de 32, Maria trabalhava como doméstica e quituteira em Limeira. Após a guerra estourar, chegou a afrontar o ditador Getúlio Vargas em praça pública, mas não se sentiu satisfeita com apenas isso. Pelo seu profundo amor a São Paulo, fingiu-se de homem, se alistou e foi selecionada pra combater no setor sul junto à Legião Negra. Apenas descobriram sua identidade feminina quando foi ferida e socorrida, o que lhe valeu o apelido de Maria-Soldado. 

Apesar de Bezerra ter sido saudada pelo jornal A Gazeta em 1932 e de ter sido escolhida como «Mulher Símbolo» no Jubileu de Prata da Revolução de 1932, ela permanece desconhecida pela maioria dos Paulistas. Enquanto na Espanha, Maria Pita, a mulher que saiu às ruas da Corunha convocando os cidadãos a lutarem junto a si contra os invasores ingleses, é uma das heroínas mais conhecidas do país e leva um monumento com uma chama sempre acesa, a Maria-Soldado permanece no esquecimento do seu próprio povo.

3. Tarsila do Amaral (1886-1973)

Tarsila em fotografia.





Estudada parte tanto em São Paulo quanto em Barcelona, Tarsila foi uma das maiores pintoras da história do Modernismo. Casou-se cedo e após se dar conta de que seu marido não apoiava sua independência, separou-se dele e se lançou numa corrida pela anulação do casamento – que obtém anos depois. Mulher obstinada, enfrentou o preconceito de sua época, por ser mãe solteira e adepta de novas ideias. Fazia parte do Grupo dos Cinco Paulistas que deram início ao modernismo na América Portuguesa e que executaram a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi ainda conservadora do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo e deu início à organização do catálogo do museu. Mas perdeu o posto quando Getúlio Vargas assumiu o poder. Teve uma vida de intensas penúrias, havendo inclusive perdido sua única filha alguns anos antes dela mesma falecer. Uma das crateras do planeta Mercúrio se chama «Amaral» em homenagem ela.


4. Stela Rosa Sguassábia (1889-1973)



Stela trabalhava como professora rural em sua cidade pra que pudesse criar e sustentar sozinha a sua filha, já que seu marido havia morrido quando estava grávida. Ao estourar a guerra, disfarçou-se de homem e embarcou em segredo junto aos soldados pra que pudesse lutar por São Paulo, mas foi descoberta logo no início, tendo implorado pra não ser mandada de volta. Combateu bravamente e foi uma aquisição muito importante, sendo que certa vez deu voz de prisão a um tenente mineiro que se recusou a entregar a rendição a uma mulher.

Após a derrota, Maria Sguassábia, como era chamada, foi ameaçada de morte e perdeu o emprego de professora por ter rendido um homem importante durante a guerra. Foi perseguida pela ditadura e teve que trabalhar como costureira pra se manter, não conseguindo arrumar nenhum emprego na cidade, pois imperava um regime de medo imposto pelos interventores varguistas. Só com a queda do ditador é que ela pôde voltar a trabalhar na área da educação, como inspetora num colégio do governo estadual, em reconhecimento ao seu grande papel na História Paulista.


5. Carlota Pereira de Queirós (1892-1982)



Carlota começou a vida trabalhando como educadora e nessa área desenvolveu estudos a fim de melhorar a realidade em que estava inserida. Seus trabalhos chegaram a ser apresentados em congressos internacionais nos anos 1920. Sentindo que a educação era uma área que não avançava, formou-se médica. Especialista em hematologia, foi chefe do laboratório da Clínica Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, do serviço de hematologia da Clínica de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, presidente da Associação Brasileira de Mulheres Médicas e membro da Association Française pour l'étude du Cancer (Associação Francesa para o Estudo do Câncer). 

Em 1932, seus serviços como médica são de grande ajuda aos Paulistas em virtude da Guerra. Ao fim do conflito, envolve-se na oposição ao governo Vargas e ocupa uma das 22 cadeiras paulistas na constituinte, sendo a primeira mulher a chegar a tão alto cargo na América Portuguesa. Carlota seria o único nome feminino a assinar a Constituinte de 1934, ao lado de outros 252 deputados. Após a promulgação, seria eleita novamente, dessa vez pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, e permaneceria na Câmara até seu fim, em 1937, quando Getúlio Vargas fechou o Congresso, no golpe do Estado Novo. 

Em vida, Queirós rejeitou o rótulo de feminista, dizendo apenas defender as conquista da mulher, sem participar de tais movimentos, o que lhe rendeu inimizades. Além disso, era Paulista com muito orgulho, o que lhe rendeu duras críticas e ataques por parte dos brasileiros. Chegaram a publicar no Jornal A Manhã uma foto de Carlota com a legenda «Dizem que São Paulo perdeu a revolução por falta de armas, mas estamos vendo que lá havia cada canhão!». 

Apesar dos episódios de preconceito, Carlota perseverou sempre. Ao ser eleita, declarou: 

«A minha candidatura (...) não é senão uma nova conquista da mulher bandeirante... Sou depositária dessa conquista, nada mais do que isso. Procurarei guardá-la, carinhosamente, para mais tarde, quando terminar minha missão, restituí-la à sua verdadeira dona: a mulher paulista. Na Constituinte, espero, observarei diretrizes de intérprete fiel de minhas patrícias».


6. Maria Lenk (1915-2007)



Pioneira na natação moderna, Lenk foi a primeira mulher sul-americana a participar das Olimpíadas. Ainda hoje detém vários recordes mundiais e faz parte do Hall da Fama da Federação Internacional de Natação. Ajudou a fundar a Escola de Natação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em reconhecimento aos seus feitos, o Parque Aquático dos Jogos Pan-Americanos de 2007 levou seu nome.



7. Ruth Guimarães (1920-2014)

(Imagem da Folha de São Paulo)

Poetisa e folclorista, Guimarães fez um importante trabalho na conservação e compreensão da Cultura Paulista. Pra ela, ser caipira não estava ligado à geografia, pois era antes uma condição espiritual e ontológica. Suas obras são ricas e transcendem o aspecto material da vida, sendo de extrema importância não só pra todo o Povo Paulista, mas pra todos os Povos Caipiras que se espalham pelo continente. Ruth foi a primeira escritora negra a obter sucesso em toda a América Portuguesa, em vez de ter apenas um sucesso regional, numa época em que o racismo era muito mais presente na sociedade.

Durante sua vida, escreveu inúmeros romances e colaborou com diversos jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em vida era detentora da cadeira 22 da Academia Paulista de Letras. Apesar de seus méritos, permanece quase anônima fora da região em que nasceu, o que é de grande lamento pro povo de SP, que desconhece alguém que tanto contribuiu pra que nossa cultura existisse, fosse compreendida e permanecesse connosco, alguém de suma importância pra nossa Nação Paulista.



8. Lygia Fagundes Telles (1923)













Uma das maiores escritoras Paulistas de todos os tempos, Lygia é autora de livros como «Ciranda de Pedra», «Antes do Baile Verde», «As Meninas» e «As Horas Nuas». Chegou a ganhar o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França, o prêmio Jabuti, o prêmio de Ficção da Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Camões, participando do seleto grupo de galardoados, do qual fazem parte José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andersen, Eugénio de Andrade, Jorge Amado e outros escritores ilustres. 

Ocupou a presidência da Cinemateca Brasileira e é membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Foi indicada ao Nobel de Literatura de 2016, mas o escolhido final foi Bob Dylan.

9. Inezita Barroso (1925-2015)


Inezita está na lista dos maiores Paulistas da nossa história. Atuante no ramo cultural, se diferenciou dos outros artistas por ter um imenso orgulho da cultura ancestral de São Paulo. A vida inteira lutou pra que ser caipira fosse motivo de júbilo, e não de vergonha. Essa mulher produziu mais de oitenta discos, entre 78 rpm, vinil e CDs. Em seus 50 anos de carreira, Inezita atingiu grande notabilidade não só em São Paulo, mas também no Brasil, no restante da América e também na África, tendo sido indicada ao Grammy Sul-Africano na categoria de artistas internacionais. 

Por ser uma enciclopédia viva de Folclore Paulista, recebeu o título de doutora honoris causa em Folclore pela Unifal, Unicapital e pela Universidade de Lisboa. Ainda recebeu o Prêmio Governador do Estado e o Prêmio Saci de melhor atriz em 1955 por sua interpretação no filme «Mulher de Verdade», o Troféu APCA em 2010 com o Grande Prêmio da Crítica em MPB, o Troféu Roquette Pinto como melhor cantora de rádio e o Prêmio Guarani como melhor cantora de disco. Além disso, foi laureada pelo governo paulista com a Medalha Ipiranga pelos serviços prestados à Cultura Paulista e em novembro de 2014, foi eleita para a Academia Paulista de Letras. Seu trabalho foi uma grande conquista pra Nação Paulista. Antes de falecer, pediu que a Bandeira de São Paulo fosse colocada sobre o seu caixão.


10. Hebe Camargo (1929-2012)



Apresentadora, cantora e atriz, Camargo era conhecida como «a estrela de São Paulo» no início de sua carreira. Durante seus anos de atuação, apresentou diversos programas em emissoras de TV como a Rede Tupi, a Rede Bandeirantes, a TV Continental, a Rede Record, a Rede TV! e o SBT. Chegou a ser convidada pela TVI de Portugal pra ter um programa na Europa, mas não pôde realizar o sonho, devido à sua saúde já abalada na época. Hebe tinha um grande coração e esteve envolvida em obras de caridade durante toda a sua vida. Morreu em 2012, deixando um grande vazio na indústria de entretenimento paulista.

Menções honrosas:

- Domitila de Castro Canto e Mello (1797-1867), a Marquesa de Santos, que teve atuação decisiva em momentos importantes da História, como na Revolução Liberal de 1842

- Francisca das Chagas Oliveira, mulher que treinou soldados e lutou no front em 1932

- Pérola Byington (1879-1963), filantropa e ativista social Paulista

- Anita Malfatti (1889-1964), uma das pioneiras do modernismo em São Paulo

- Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), «Pagu», escritora, desenhista e jornalista Paulista

- Diná Silveira de Queirós (1911-1982), romancista, autora do livro «A Muralha», que trata da História Paulista

- Helena Meirelles (1924-2005), célebre violeira nascida no MS e radicada no Oeste Paulista

- Hilda Hilst (1930-2004), uma das maiores escritoras lusófonas do século XX

- Maria Esther Bueno (1939), a maior tenista Paulista de todos os tempos

- Orides Fontela (1940-1998), escritora da «Geração de 60» homenageada com a Ordem do Mérito Cultural

- Rita Lee (1947), a rockeira Paulista de maior sucesso da história da música

Não nos esquecemos de todas as mulheres que durante toda a História trabalharam por São Paulo. Todas as mulheres que estiveram presentes no Bandeirismo, direta ou indiretamente. Todas as mulheres que deram suporte a São Paulo durante as guerras e conflitos pelos quais passamos e todas as mulheres que trabalham todos os dias por sua família, por si próprias ou pelas duas coisas, de acordo com a escolha. Esse dia é delas! Parabéns, mulheres!

Por Lucas Pupile e Vinícius Matheus

sexta-feira, 3 de março de 2017

Carlos Miranda: O Vigilante Rodoviário


 
Foto promocional e revistas da série.

Uma das séries nacionais de televisão mais famosas nos anos 1960, O Vigilante Rodoviário marcou gerações. Quem assistiu na época ou ainda viu a reprise pelo Canal Brasil há alguns anos atrás, como eu, jamais se esquecerá da música: "De noite ou de dia, vive no volante / Vai pela rodovia, bravo vigilante!"

De idealização de Ary Fernandes (natural de São Paulo capital), que sentia falta de um herói 100% nacional, a série foi ao ar pela primeira vez em 3 de janeiro de 1962. O seriado conta as histórias e aventuras do policial rodoviário Carlos Miranda, interpretando a si mesmo, um policial de verdade, e acompanhando de seu cão Lobo e do menino Tuca, a bordo de uma moto Harley-Davidson 1952 ou de um paulistíssimo Simca Chambord 1959. Os episódios eram filmados na altura do Km 38 da Rodovia Anhanguera, onde o Sol favorecia a filmagem, ou ao longo da Rodovia Anchieta, tendo como temas perseguições, aventuras, sequestros com uma dose de humor, drama e suspense.

Carlos Miranda e seu inseparável Simca Chambord. Créditos: Notícias Automotivas.

Cativando crianças e adultos, rapidamente se tornou história em quadrinhos e até filme, em 1978. Exibida originalmente pela TV Tupi, a série contou com 38 episódios, reprisados depois na mesma emissora em 1967, pela Rede Globo nos anos 1970 e pelo Canal Brasil em 2008. Hoje, Carlos Miranda, aposentado de suas funções, é figura carimbada em encontros de automóveis antigos por São Paulo, acompanhado de seu Simca 1959 utilizado nas gravações e reconstruído em 2007 após um acidente.

Por Thales Veiga

quarta-feira, 1 de março de 2017

Vinhedo

A imagem pode conter: céu, atividades ao ar livre e natureza
Vista aérea da cidade, em julho de 2016. Créditos: Thales Veiga.

Presença carimbada nos índices de melhores cidades do país para se viver, Vinhedo também figura nas primeiras posições dos rankings de qualidade de vida. Com um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,817, é comparável à qualidade de vida a países do Leste Europeu, e a 6ª no estado de São Paulo, com uma população estimada em 72 mil habitantes.

Surgiu por volta de 1620, quando foi fundado um pouso de tropeiros na Estrada Velha de Campinas, também chamada de Estrada da Boiada (nome popular que mantém até hoje), onde os bandeirantes poderiam descansar e reabastecer suas tropas em direção ao sertão desconhecido. 

Uma das avenidas principais. Créditos: Thales Veiga.

Ao final do século XIX, as fazendas de açúcar da região passaram a produzir café, o que logo se tornou o principal produto de São Paulo. Em 1840, a então chamada "Rocinha" já era uma vila, que abrigava principalmente ex-escravos que trabalhavam no beneficiamento de café. Em 1908 foi elevada à condição de distrito de Jundiaí, quando, trazida pelos novos imigrantes vindos da Itália, foi introduzida a cultura de uva, causada pela queda do preço no café na região (visto o solo de terra roxa da região de Ribeirão Preto ser muito mais produtivo).

Em 1948, através de um plebiscito, conseguiu sua emancipação política, sendo escolhido o nome atual como nova nomenclatura da cidade. Em 1950, foi realizada a primeira edição da Festa da Uva, tradição que se mantém até hoje. 


Tal como diversas cidades paulistas, Vinhedo mantém a tradição de ter um portal de entrada. Créditos: Jornal Cidade.

Uma das diversas plantações de uvas da cidade, que fazem a alegria de todos na Festa da Uva, realizada anualmente, em julho. Créditos: Correio Popular.

O Memorial do Imigrante Italiano, inaugurado em 2007 próximo a uma das entradas da cidade, e que contém exposições fixas e temporárias sobre a cultura italiana. Créditos: PASS Arquitetura.

Além das vinícolas e alambiques, um agradável passeio é ao Parque Jayme Ferragut, ao Cristo Redentor (de onde foi tirada esta foto) e ao centro da cidade, além do parque de diversões Hopi Hari, que se encontra nas proximidades. É uma das principais cidades do chamado Circuito das Frutas, uma das muitas belas regiões de São Paulo. 


Por Thales Veiga.