segunda-feira, 31 de julho de 2017

Analândia: Um Paraíso na Serra de Itaqueri

Desde a chegada à cidade, Analândia nos revela vistas surpreendentes e paisagens de tirar o fôlego. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Fora dos principais mapas turísticos pode-se encontrar muitos lugares belíssimos e inexplorados. Um desses casos é Analândia, uma pequena cidade de 4789 habitantes, encrustada na quase desconhecida Serra de Itaqueri. Como várias cidades paulistas, surgiu com o progresso após a chegada da ferrovia, no caso, a E. F. Rio Claro, inaugurada em 1884 ligando Rio Claro a Araraquara. Meses depois, Manoel Vicente Lisboa doou 20 alqueires de terra para a formação da cidade, cuja construção foi iniciada em 20 de outubro de 1887, juntamente com a Igreja de Santa Ana, localizada na praça central.

Assim também como diversos lugarejos de São Paulo, sua construção foi totalmente planejada, sendo o centro da cidade um grande "quadriculado", com ruas retas e quarteirões quadrados, nomeadas com números. No sentido leste-oeste, encontram-se as ruas, numeradas com números em ordem crescente, e no sentido norte-sul, encontram-se as avenidas, numeradas com números ímpares da entrada da cidade à praça central, e da praça central em diante, as avenidas com números ímpares. Tal organização é encontrada em cidades da mesma região como Rio Claro e Itirapina, e outras mais distantes como Barretos.

O grupo escolar, projeto do arquiteto paulista Ramos de Azevedo, em uma das esquinas da praça central. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

O próspero povoado foi elevado a distrito de paz em 1890 com o nome de Annapolis, em homenagem à padroeira Santa Ana; seguindo-se o rápido crescimento, provocado pelas riquíssimas lavouras de café da região, tornou-se vila em 1897 e cidade em 1906, desmembrando-se de Rio Claro. Entretanto, quando o café encontrou as terras férteis do norte e oeste de São Paulo, as fazendas dos terrenos acidentados da Serra de Itaqueri tiveram uma queda na produção e "pararam no tempo"; aliado a isto, em 1911 é inaugurada uma segunda ferrovia entre Rio Claro e São Carlos, passando por fora da cidade, e a ainda Annapolis também estagnou. A cidade, que chegou a ter mais de 17 mil habitantes, hoje tem apenas 1/4 disto, devido a fuga de habitantes para outras regiões em busca de emprego. A desativação da ferrovia, em 1966, pôs um ponto final no ciclo econômico cafeeiro de Analândia, o nome atual, que ganhou a partir de 1944.

No mesmo ano de 1966, torna-se uma das estâncias climáticas paulistas, cidades com potencial turístico devido ao clima mais ameno e as preciosidades naturais da região. A partir dos anos 1990, com o crescimento do ecoturismo em Brotas, localizada também na Serra de Itaqueri, Analândia foca seus investimentos e almeja se tornar o mais novo ponto turístico do estado. Nós, da Orgulho de Ser Paulista, fomos conferir de perto todo este potencial.

A Viagem


A calma e a tranquilidade da praça central durante um dia de semana nem remete ao mesmo lugar que no sábado, a noite, abrigou o Festival de Inverno de Analândia, uma típica festa paulista, com comidas típicas e apresentações de grupos locais. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Em nossos 4 dias de estadia na cidade, saímos de lá com as melhores impressões possíveis. A calma e a tranquilidade de Analândia nos preenchem com uma sensação de paz e a ânsia pelo retorno futuro ao local. A proximidade com a natureza nos faz sentir novamente parte dela, e por ser um lugar que "parou no tempo", Analândia conserva ainda algumas características que raramente encontramos em outras cidades.

Além da praça central, com a bela Igreja de Santa Ana e um conjunto arquitetônico eclético paulista, com o grupo escolar, a delegacia de polícia, o coreto e outras construções, destacamos a antiga estação ferroviária, desativada em 1966 e muito bem preservada, e à visita aos principais atrativos naturais como a Cachoeira Salto Major Levi, de fácil acesso, localizada dentro da área urbana, e Cachoeira do Escorrega, local ideal para banho e passeio de boia. O destaque vai também para o Morro do Cuscuzeiro, onde, através de uma caminhada moderada em uma trilha, após cerca de meia hora, atinge-se a base da rocha, de onde os profissionais podem seguir ao topo através da prática de rapel e escalada. De lá, tem-se uma vista panorâmica da cidade, com um pôr do sol de tirar o fôlego. No mesmo local há outras opções de diversão, como tirolesa e tiro ao alvo, além de um bom restaurante para almoço e áreas de camping.


Outrora movimentada, a antiga estação ferroviária, que abrigou passageiros das empresas E. F. Rio Claro e Cia. Paulista de E. F., hoje é um museu particular, e ainda exibe em suas paredes o nome original da cidade: Annapolis. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

A simpática Igreja de Santa Ana abriga em suas paredes uma história que se confunde com a história da própria cidade. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Para os apaixonados por ecoturismo, além dos atrativos citados, há uma estimativa de existirem cerca de 100 cachoeiras apenas no município, além de outros monumentos naturais como o Morro do Camelo, vizinho ao Cuscuzeiro, o Cânion Bocaina e a Gruta do Índio, onde em seu interior existem pinturas rupestres feitas por povos pré-históricos. Há ainda, na região, algumas antigas fazendas de café, algumas hoje em ruínas, que estão para o povo paulista como os castelos estão para a Europa, guardadas as devidas proporções, presentes da mesma forma em nossa formação cultural e social. 

Recomendamos também a pousada Villa Donnanna, onde fomos muito bem acolhidos, e a cachaçaria Macaúva, uma das referências do estado em drinks e cachaças, com carta elaborada pelo próprio proprietário, Milton Lima, e tendo como cliente o chefe Henrique Fogaça, que também assina um prato do cardápio. A noite, recomendamos os deliciosos lanches e sucos naturais da praça central, com destaque aos pastéis, com sabores não tão comuns - todos excelentes. No sábado, ainda foi possível curtir o Festival de Inverno da cidade, uma típica festa do interior paulista, com comidas típicas, um ótimo quentão, venda de artesanato e apresentação de bandas e artistas da região. É possível ainda separar um período para visitar outras cidades próximas, como Itirapina, Pirassununga e Santa Rita do Passa Quatro, todas possuindo também belíssimos aspectos naturais... Mas esta é uma história para a próxima postagem!

Confira mais algumas fotos:


A Cachoeira Salto Major Levi, localizada dentro da cidade, onde há um bar-restaurante onde é possível sentar à beira do rio e aprecia a belíssima paisagem. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Alguns metros à frente da Major Levi, encontramos uma pequena gruta na beira de um riacho, num dos lugares mais bonitos que já tivemos. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.



A Cachoeira do Escorrega, onde, como o nome diz, é ideal para a prática de boia-cross no rio, e, com cuidado, um bom banho de cachoeira - como fizemos. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Do restaurante da Cachoeira do Escorrega, tem-se uma vista sem igual da paisagem da Serra de Itaqueri, com o icônico Morro do Cuscuzeiro ao fundo. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Vista do Canion da Bocaina, localizado atrás da cidade e acessível apenas com guias. Créditos: Magali Viajante.

Para esquentar a noite fria de 22 de julho, o Festival de Inverno de Analândia, uma típica festa da Cultura Paulista. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Local da abertura da novela "A Força do Querer", da TV globo, o belíssimo caminho para a trilha que sobe o Morro do Cuscuzeiro: uma paisagem sem precedentes, e literalmente, de novela. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

Próximo da hora do pôr do Sol, uma vista aérea da cidade, vista do topo da trilha do Morro do Cuscuzeiro. Créditos: Thales Veiga/Orgulho de Ser Paulista.

São Paulo é, sem dúvida, um lugar que nos surpreende em cada rincão e nos encanta mais e mais, nos fazendo cada vez mais ter Orgulho de Ser Paulista. Viaje por seu estado, conheça Analândia e surpreenda-se com uma pequena e bela cidade paulista!

Agradecimentos especiais: Pousada Villa Donnanna e Verzola Photo Studio.

Por Thales Veiga.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Parque Balneário: O Hotel Mais Luxuoso da América Latina

A elegância do "Palácio Cinza" em 1950, demonstrada em cada detalhe do prédio, em sua fachada principal na Av. Ana Costa. Autor desconhecido.

Na virada do século XIX para o século XX, a economia pujante e dinâmica de São Paulo levava rapidamente o progresso e a riqueza para todos os cantos do nosso Estado. Empreendimentos de todo o tipo pipocavam por todo o território paulista, desde obras de infraestrutura a novidades que anteriormente não existiam, voltadas também para a nova classe empresarial que passava a existir. Inspirados nos grandes balneários franceses e ingleses já existentes na época, que praticamente inauguraram o conceito de "turismo" como conhecemos hoje, surge então a vila de Guarujá, que trouxe este modelo de negócio para São Paulo: a praia se tornava um atrativo para visitantes de fora e ponto de refúgio nas horas de lazer. Os hotéis nestes locais não mais serviam para abrigar viajantes ou forasteiros, e sim como um local para descansar e se divertir.

Foi neste contexto que, no longínquo ano de 1882, o casal Alberto Fomm e Elisa Poli inauguram uma pequena instalação hoteleira, no terreno da família, localizado na esquina da Av. Ana Costa com a praia, em Santos: nascia ali o Hotel Parque Balneário. De início, o prédio modesto quase em nada se diferenciava das "pensões" que existiam nas proximidades de estações ferroviárias em diversas cidades paulistas, tendo um edifício de madeira que servia como recepção e restaurante, e na parte de trás um anexo onde ficavam os quartos. Porém, apresentava como um diferencial algo que praticamente não havia em outra instalação hoteleira em nosso litoral: a parte restante do grande terreno foi transformada em um grande jardim. Seu nome advinha do fato de ser fronteiro a uma estrutura com banheiros, vestiários, salas de banho, coreto e aluguel de carros de banho, chamada de "parque balneário". A pequena hospedaria, aparentemente sem nome, passou a ser conhecida então como "o hotel do parque balneário". Aos poucos, o nome então foi tomado para si: o Parque Balneário Hotel.

O Parque Balneário Hotel em 1912, durante a passagem do aviador Edmund Plauchut, no que foi o primeiro voo de avião em São Paulo. Coleção Marcelo Tallamo.

A localização também era privilegiada: embora ainda uma região bastante deserta, a orla da praia já estava sendo valorizada e tomada por diversas mansões. A Av. Ana Costa, aberta na década anterior, promovia uma ligação direta entre a praia e o centro da cidade, fazendo com que a região do bairro do Gonzaga fosse a primeira a ser ocupada. O hotel estava, portanto, localizado no cruzamento dos dois eixos de crescimento urbano de Santos, e com acesso facilitado pela inauguração, em 1909, das primeiras linhas de bondes elétricos da cidade, que conduziam com conforto e rapidez os turistas que chegassem pela ferrovia ou nos navios que vinham do mundo inteiro.

Tal fato chamou a atenção do empresário e investidor João Fraccaroli, que viu o imenso potencial que o empreendimento detinha por natureza, mas que era impedido pela falta de capital de seus proprietários. Apostando na ideia, comprou a propriedade em 1912 e imediatamente iniciou a construção de um enorme prédio nos fundos do existente, com entrada direta para a avenida praiana; no seu andar térreo, o "Kursaal", um luxuoso cassino que prometia coroar todo o novo Parque Balneário. Inaugurado em 1914, era o que faltava para tornar rapidamente o hotel um dos destinos preferidos da alta sociedade paulista. Ironicamente, o terreno localizado na esquina contrária, o antigo "parque balneário municipal" que deu nome ao hotel, foi vendido e deu origem ao concorrente de peso do Parque Balneário: o Hotel Atlântico. Também dispondo de cassino, o prédio, inaugurado não muito depois, trouxe novidades como piscina e até mesmo uma concha acústica com teto retrátil. A concorrência entre os dois é tão digna de nota que seria impossível contar a história de um sem falar de outro, afinal, a cada novidade inaugurada pelo concorrente, o Balneário lançava mão de outra, e vice versa. Porém, localizado num terreno muito maior, o Balneário sempre levava vantagem.

Desenho do primeiro prédio do novo Parque Balneário Hotel. Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos.

Em 14 de maio de 1914, a revista A Vida Moderna trazia a propaganda da inauguração do grande prédio do Balneário, que marcou o início do crescimento do hotel e o elevou a um patamar de qualidade internacional.

Mas Fraccaroli sonhava alto, e desde a compra do Balneário, estabeleceu um plano de metas onde o hotel sofreria sucessivas ampliações. O motivo: João sonhava em ver o Balneário como o centro das rodas da alta sociedade paulista. E assim não demorou a ser. Nas palavras do historiador Waldir Rueda, "Todo mundo vivia através do cassino, que traz o luxo, o dinheiro rápido. O Parque Balneário foi concebido para a pessoa se sentir em um palácio. E se sentia mesmo". Na década de 1930, os três prédios em estilo eclético paulista que compunham o Parque Balneário já estavam concluídos, e sua fama internacional consolidada.

Durante seus anos de auge, o Balneário hospedou diversas personalidades internacionais, tais como quase todos os presidentes do Brasil até a década de 1970, o Rei Alberto I da Bélgica, artistas como Bibi Ferreira, Procópio Ferreira e Carmen Miranda, e o aviador pioneiro Gago Coutinho. Em seus salões, dos quais falaremos mais abaixo, eram realizadas festas de todo o tipo, jantares de gala, bailes de carnaval (durante muito tempo, o carnaval de Santos foi considerado o melhor do país) e casamentos de celebridades. Foi no Parque Balneário que Washington Luiz lançou, em 1926, sua candidatura a presidência, num jantar para centenas de convidados; também foi no interior do hotel que foram fundadas diversas instituições, como o Tenis Clube de Santos.

Propaganda sem data do Hotel, com quase todos os prédios já concluídos. Observa-se o público alvo no texto da reportagem. Acervo Novo Milênio.

Por dentro do "Palácio Cinza"

Contrastando com outro grande cassino da cidade de Santos, o Miramar, que devido à sua aparência externa era chamado de "Palácio Dourado", o Parque Balneário recebeu dos santistas o apelido de "Palácio Cinza". Em seus 15 mil metros quadrados, após todas as expansões realizadas, contava com 250 quartos, com piso de madeira maciça em dois tons; as banheiras dos quartos mais nobres eram inteiramente de porcelana colorida, com bordas em mármore. Haviam 5 salões principais, sendo: Salão de Mármore, com música ao vivo diariamente, onde se apresentava um pianista do próprio hotel, artistas renomados e até mesmo orquestras sinfônicas; Salão Dourado, para festividades e jantares especiais; Kursaal, onde ficava o cassino; o Salão de Leitura e Carteado, e o Restaurante.  O Salão Dourado, o principal, era todo revestido, do chão ao teto, com afrescos renascentistas; o hotel mantinha um pintor italiano profissional de prontidão para dar os retoques necessários nas obras de arte. A Boate tinha paredes totalmente revestidas em cetim rosa, e possuía conexão direta com o restaurante e o Grill, um snack bar localizado na área externa,de onde os garçons também atendiam às mesas do pergolado, preferidas por muitos, em volta de uma fonte luminosa. Contava ainda com um salão de beleza e barbearia, açougue e padaria próprios, além de uma usina que fornecia água quente para todo o prédio, um luxo para a época. E como uma outra grande novidade, todos os principais ambientes eram climatizados com ar condicionado, como os salões e o hall de entrada.

Os salões, assim como o restaurante e o jardim, eram abertos ao público não-hóspede, e a todos eram oferecidos de cortesia um café especial - afinal, o hotel ficou famoso por ser o segundo lar de muitos "barões do café"; mesmo assim, todas as xícaras do hotel eram de porcelana Vista Alegre, importadas de Portugal, os copos e taças de cristal e os demais aparelhos e talheres, incluindo as bandejas, de prata Wolff. As festas eram diárias, sempre com eventos novos, seja a apresentação de artistas e grupos consagrados de todos os tipos que tinham início as 8 da noite; após as 23 horas, a música mudava e a festa continuava na Boate até o amanhecer. Como já dito, o baile de carnaval do hotel era um dos mais disputados da cidade. A excelência era buscada nos mínimos detalhes, até mesmo nos funcionários, que aparavam os cabelos uma vez por semana e possuíam uniformes exclusivos para cada função, como por exemplo um bordado em formas de grãos de café para os funcionários que serviam o "cafezinho"; os ternos eram de inteiramente de linho branco. "As agências de turismo levavam os passageiros dos navios para ver o salão. Antes de chegarem, me avisavam, para eu acender as luzes. Aquilo era maravilhoso. Os estrangeiros ficavam de queixo caído. E eu ganhava uma gorjetinha", contou o ex-funcionário José Maria, que chegou a servir café para Getúlio Vargas em uma das estadias do ditador no hotel.

Para comodidade dos frequentadores, na entrada principal, pela Av. Ana Costa, havia um "port-cocher", cobertura onde se entrava com o carro para os passageiros não se molharem, dando acesso à recepção e aos salões principais; uma segunda entrada, também com "port-cocher", localizada no meio do hotel defronte ao jardim, permitia um acesso mais rápido aos quartos e certamente era a preferida pelas celebridades. Para deslumbrar a visão dos recém chegados, o hall de entrada era decorado com 4 grandes lustres de cristal, cada um com 2 metros de altura, que demoravam cerca de uma semana inteira para serem cuidadosamente limpos.

A Decadência

O primeiro golpe que abalou o hotel veio com a Crise Econômica de 1929, que afetou diretamente as exportações de café, principal fonte de renda de muitos de seus frequentadores assíduos. Entretanto, e principalmente devido ao cassino, o hotel conseguiu sobreviver a isto e à ditadura Vargas sem entrar em dificuldades, porém com o crescimento estagnado. Já no fim da ditadura, começa-se a discutir, no âmbito federal, a proibição dos jogos de azar, que ocasionaria o fechamento dos cassinos no país; sancionada pelo sucessor de Vargas, Gaspar Dutra, em 1946, representou o maior golpe ao Parque Balneário, que entrou em decadência.

Com as dívidas acumulando e o preço da manutenção do hotel subindo, já que o prédio começava a demonstrar os sinais da idade, João Fraccaroli decide vender o empreendimento em meados da década de 1960. O Santos Futebol Clube, que vivia o sucesso internacional devido a chamada "Era Pelé", com a conquista de títulos e fama, decidiu investir boa parte do dinheiro ganho à época na compra do Balneário, em 8 de junho de 1965. A ideia do presidente, Athié Jorge Cury, era de que com a ditadura militar, os cassinos fossem novamente liberados, e por sua vez o Balneário proporcionaria grandes lucros que seriam investidos diretamente no clube; seu sonho era transformar o Santos no maior time do mundo, e via no cassino uma fonte inesgotável de dinheiro. O valor foi uma quantia extraordinária para a época: 6 bilhões e 55 milhões de cruzeiros, que seriam pagos em 2 anos; imediatamente após assumir o hotel, o Santos transferiu sua sede social para lá e investiu maciçamente nas festas e nos shows, como os de Elis Regina, para tentar recuperar o glamour que o Balneário possuiu em seus tempos de ouro.

Porém, o tempo foi passando, e nada do jogo ser liberado; o Santos não tinha o dinheiro total para a compra, começou a emitir títulos, pedir empréstimos, e a não pagar as parcelas à Fraccaroli. O jogo não foi liberado, a após poucos anos, numa disputa na justiça, Fraccaroli reassume parte no hotel, correspondente ao que não foi pago pelo clube. Com o Balneário falido, muito dinheiro perdido, a aposentadoria iminente de Pelé e a morte de Athié, o sonho de reavivar o hotel deu lugar à necessidade da venda. E assim foi feito: em 9 de outubro de 1972, um consórcio formado pelas empreiteiras Metromar, Elacap, Arena e o empresário Cláudio Doneaux adquire o Parque Balneário, por cerca de 14 milhões de cruzeiros novos.

Os novos donos, em especial Cláudio Doneaux, considerou a possibilidade da restauração do prédio. Porém, devido a mais de 10 anos sem manutenção adequada, os custos necessários seriam muito elevados, sendo necessário a completa reconstrução do telhado e da parte hidráulica do prédio, além de ser necessária mão de obra especializada em restaurações que ainda não existia no país. Com os rumores de um possível tombamento do prédio como patrimônio histórico, processo que uns dizem que chegou a ser iniciado, foi decidido que o velho hotel, que fechou as portas no mesmo ano, daria lugar a um complexo de um novo hotel, escritórios, apartamentos e shopping center. Os móveis, lustres, talheres, obras de arte e tudo mais que havia de valor foi sendo posta a leilão e adquirida por diversas pessoas a preços relativamente baratos; os vitrais da entrada, por exemplo, decoram hoje uma mansão em Guarujá. A demolição foi iniciada em 1975, e já no ano seguinte, não havia quase mais nada do Parque Balneário.

Hoje

O novo Parque Balneário Hotel e Shopping Parque Balneário. Créditos: Pousada Areia de Praia.

Após a demolição, no terreno do antigo Balneário, foram inicialmente construídas 3 torres de apartamentos, na área de frente pra praia, preservando-se o muro original (uma das poucas coisas que sobreviveram à demolição). Em seguida, na parte virada à Av. Ana Costa, foi inaugurado em 1978 o Shopping Parque Balneário, o primeiro de grande porte da cidade, e em cima o novo Parque Balneário Hotel. Ambos mantém os nomes, o luxo e a qualidade dos serviços até hoje, sendo o hotel destino preferido de artistas, políticos e times de futebol que visitam a cidade, porém a fama nem de longe se compara com o velho hotel. Por sorte, uma pequena parte do prédio original foi preservada, a ala mais simples, sem vista ao mar, e que hoje está sem uso apesar de muito bem cuidada e tombada como patrimônio histórico. Há um projeto para integrar o prédio remanescente ao hotel atual, o que aguardamos ansiosamente.

Na sua frente, permanece de pé ainda, e também tombado como patrimônio histórico, o concorrente Atlântico Hotel, que, ao contrário do vizinho, soube se reinventar, passando pelas dificuldades do fechamento dos cassinos e das crises econômicas com criatividade. Hoje, no térreo do prédio, são localizadas lojas diversas de grandes redes, e na área do antigo cassino, que abrigou depois um cinema e uma boate, mais lojas, uma lanchonete e uma academia de ginástica. Na mesma quadra, também ainda está de pé e preservado outro grande hotel da época, o Avenida Palace, que necessita de maiores cuidados e também possui projetos para restauro. O bairro do Gonzaga tornou-se hoje o centro econômico de Santos, concentrando mais da metade do comércio da cidade, diversos shoppings, hotéis, escritórios e sedes de bancos, sendo um dos metros quadrados mais caros do país.

A bela Av. Ana Costa com suas palmeiras ao centro, tendo ao lado esquerdo o Hotel Atlântico, preservado, e do outro lado, o novo Parque Balneário. Créditos na foto.

Símbolo de diferentes eras vividas por São Paulo, o Parque Balneário deixou sua marca na história. Acompanhar sua história é ver, sob os olhos de um empreendimento grandioso, boa parte da história paulista, suas personalidades, fatos e momentos.

Confira abaixo mais algumas fotos do hotel:

O projeto original de Fraccaroli para o Balneário, de 1912, previa uma série de prédios que seriam construídos gradativamente. Da ideia, apenas a torre circular e os dois últimos andares do prédio mais alto não foram feitos; apesar disto, a entrada principal foi ampliada. Hoje, na entrada do hotel atual, há uma placa de mármore com este mesmo desenho. Acervo Parque Balneário Hotel.

Em foto do início da década de 1930, a praia repleta de visitantes e os 5 grandes hotéis do bairro do Gonzaga: Avenida Palace, Belvedere, Bandeirantes, Atlântico e Parque Balneário. Os dois menores foram demolidos e se transformaram em prédios de apartamentos. Acervo Laire José Giraud.

Em cartão postal datado de 1930, vê-se a Av. Ana Costa e suas icônicas palmeiras imperiais existentes até hoje, tendo ao seu lado esquerdo o Parque Balneário e ao seu lado direito o Atlântico, seu maior concorrente, inaugurado 2 anos antes. Acervo José Carlos Silvares.

O Hotel durante a Guerra Paulista, em 1932, quando desligava todas as luzes nas partes viradas para o mar para evitar bombardeios pelas tropas brasileiras. Acervo José Carlos Silvares.

A recepção do hotel, localizada na segunda entrada, em 1949.

A mesma entrada em vista externa do ano seguinte, tendo à frente as árvores do imenso jardim. A destruição do mesmo causou grande comoção na cidade, pois ele era aberto ao público e funcionava como uma grande praça. Acervo Waldir Rueda.

O restaurante do hotel, que possuía dois andares. Acervo Iara Migliori.

O American Bar, um dos vários ambientes mais informais do hotel. Acervo Iara Migliori.

O grande salão de beleza "para senhoras". Acervo Iara Migliari.

Talvez uma das fotos mais aguardadas, o antigo cassino Kursaal, agora já funcionando como salão de jogos. Acervo Iara Miglirari.

A Av. Ana Costa vista da Praça da Independência, em março de 1970, vendo-se ao fundo o Balneário. Dali a poucos meses, em 1971, os bondes deixariam de circular, e no ano seguinte o hotel seria vendido e demolido. Créditos na foto.

Antes de sua demolição, o abandono já era visível: as cadeiras de vime, que outrora faziam parte do disputado snack bar do pergolado e do Grill, agora já não tinham mais utilidade. Créditos: Carlos Namra.

Às vésperas da demolição, o outrora elegante Salão Dourado agora era apenas um depósito de móveis e objetos para leilão. Foto: Carlos Namra.

O hotel em demolição, nos anos 1970, já com a placa anunciando o novo empreendimento; o prédio voltado para a Av. Ana Costa foi o último a ser demolido, pois em seu interior eram realizados os leilões das peças de valor. Autor desconhecido.

A recepção do hotel atual ainda preserva algumas peças do hotel original, bem como faz uma homenagem num painel de mármore com o desenho do prédio, visto ao fundo. Créditos: Parque Balneário Hotel.

Por Thales Veiga.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Trens Blindados: Os Fantasmas da Morte


A pintura camuflada com tons de verde e azul confundia os trens blindados com a natureza paulista. Autor desconhecido.

Uma parceria Orgulho de Ser Paulista e Museu Ferroviário Paulista. Conheça os projetos!


"Dois quilômetros e o inimigo à vista. Os homens avançavam, certos de que era um trem de mercadoria, ou de víveres (realmente, como estava disfarçado), e, em posição de atirar, ajoelhavam pelos trilhos. As nossas metralhadoras picotaram os inconscientes. A primeira impressão foi dolorosa. Pungente mesmo. Presenciar umas cenas destas" (Fernando Machado, 1933).

Com seus mais de 7 mil quilômetros de ferrovias, São Paulo tinha todo o seu sistema de transporte baseado nas estradas de ferro. Atingindo quase todas as cidades do Estado, transportavam de passageiros a cargas de todos os tipos; essenciais para os paulistas, eram de importância vital e estratégica. Com a eclosão da Guerra Paulista, em julho de 1932, não poderia ser diferente: desde a primeira semana de conflito, passaram a ser usadas para transporte de tropas e suprimentos para as linhas de combate.

Na Frente Sul, que combatia na divisa com o Paraná, desde cedo os paulistas enfrentaram dificuldades. Logo, a cidade de Itararé havia sido invadida, destruída e tomada pelas tropas federais, que rumavam em direção a Itapetininga para dali seguirem à capital e tentarem depor o governo estadual e os líderes militares. Mas os paulistas não estavam dispostos a entregar sua terra e sua luta de maneira tão fácil assim, e logo, a resistência armada passou a dificultar o avanço das tropas inimigas pelo território paulista. De Itararé, os constitucionalistas recuaram para Ibiti, em seguida para a região da estação Engenheiro Maia e finalmente para Buri, onde fincaram o pé.

Mas, atingindo posições estratégicas em quase todas as regiões de São Paulo, havia também um potencial bélico a ser explorado nas ferrovias. A Frente Sul sofria com a falta de melhores armamentos para combater os soldados brasileiros, pois todas as armas pesadas da Força Pública de São Paulo haviam sido confiscadas quando Getúlio Vargas deu o golpe de estado, em 1930, já prevendo uma possível reação paulista. Surgiu então, no final de julho, a ideia de criar uma verdadeira máquina ferroviária de guerra: um trem blindado. E foi assim, numa parceria entre a Escola Politécnica (hoje, USP), IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e E. F. Sorocabana, que surgiu o TB-1, ou, Trem Blindado nº 1. Sua concepção partiu do engenheiro francês Clèment de Baujaneau, que vivia em São Paulo e chegou a conhecer os trens blindados europeus utilizados na Primeira Guerra Mundial, e sua construção a cargo do engenheiro voluntário Augusto Ferreira Velloso, que abandonou seu escritório para auxiliar a Politécnica na construção de veículos blindados para a Guerra.

O TB-1, o primeiro trem blindado paulista; sua tripulação posando defronte à primeira grande máquina de guerra de São Paulo, na cidade de Mairinque. Autor desconhecido.

Construído na oficina ferroviária de Sorocaba, o TB-1 era composto de uma locomotiva a vapor e um vagão, ambos blindados; no interior do vagão, localizavam-se soldados que através de pequenas aberturas posicionavam suas metralhadoras Hotchkiss de 7 mm. Acima, no teto, dois potentes faróis movidos pela própria locomotiva iluminavam totalmente as trincheiras inimigas. O relato com o qual iniciamos o texto é justamente sobre uma das primeiras vezes - senão a primeira - em que o TB-1 foi utilizado em Buri, sempre causando pânico dentre as mal preparadas tropas brasileiras, que nunca haviam visto arma de destruição tão potente como aquela. Comandado pelo primeiro-tenente Affonso Negrão, nas cercanias das estações de Aracassu, Buri, Eng. Hermillo, Rondinha e Victorino Camillo, e ainda sem estar completamente finalizado, conseguiu aniquilar completamente as forças inimigas em Rondinha e retomar a cidade paulista de Buri, no dia 26 de julho de 1932.

O sucesso foi tanto que logo foi construído a segunda unidade, utilizando-se a locomotiva nº 216, batizada de TB-2, e o TB-1 voltou para a oficina para ser ainda mais equipado e transformado no TB-3. Agora, os trens blindados assumiam as características básicas finais, com não mais um, mas dois vagões blindados (um a frente e outro atrás da locomotiva), repletos de metralhadoras Hotchkiss, e agora ganhando também nas extremidades dois canhões Krupp ou Schneider de 75 mm, com imenso poder de fogo e capacidade de defender-se, já que a blindagem era extremamente resistente, feita de um "sanduíche" de peças de madeira de faveiro, extremamente dura, envolta por chapas de aço; onde não fosse possível a instalação da madeira, era coberto por chapas de aço de grosso calibre. Não haviam portas ou janelas: a visualização externa era feita por 3 pequenas aberturas, que também serviam para a entrada de ar, e a comunicação com os maquinistas era feita através de um telefone, para as ordens de "parar", "avançar" ou "retroceder"; já a entrada era feita por um pequeno buraco no chão dos vagões. Um dispositivo parecido com um calço fixava o veículo no solo, para que não se movimentasse durante os tiros.

Com uma tripulação de apenas 18 pessoas, sendo 3 responsáveis pela operação do trem e 15 pelo manuseio das armas. Não era fácil ser parte da equipe dos TBs, já que o calor no interior dos mesmos era imenso, com todos os combatentes trabalhando somente de calça. Os operadores das metralhadoras também tinham dificuldades devido ao pequeno espaço, muitos deles ganhando cicatrizes nos braços devido aos cartuchos de munição, que ricocheteavam nos mesmos. Armas comuns não causavam qualquer tipo de dano ao trens, que apenas poderiam ser danificados com granadas mais potentes e bombas, o que os brasileiros jamais conseguiram. Assim, TB-2 e o agora TB-3 operavam na Frente Sul, na região de Buri, principalmente em locais próximos as estações de Engenheiro Hermillo, Lidiana e Aracassú, onde da linha férrea era possível avistar livremente os morros onde o exército adversário estava posicionado, evitando o avanço do mesmo no território paulista.

Um dos vagões do TB-4 recém concluído, no interior da oficina ferroviária de Rio Claro. Créditos: Cia. Paulista de E. F..

O imenso sucesso das duas primeiras unidades motivou a Politécnica e o IPT a se juntarem com engenheiros das ferrovias Cia. Mogiana de E. F. e Cia. Paulista de E. F., outrora grandes rivais pela disputa de cargas na região de Ribeirão Preto, mas que deixaram qualquer desavença de lado para lutar em prol da Causa Paulista. Foram construídos então o TB-4 pela "Paulista" na oficina de Rio Claro, e o TB-5 pela "Mogiana" na oficina de Campinas, ambos para atender os combates na divisa com Minas Gerais nas linhas dessa última empresa. Ambos possuíam algumas melhorias em relação aos dois primeiros, sendo ainda mais avançados tecnologicamente. As locomotivas empregadas, as de nº 730 e 732, eram ligeiramente menores que as anteriores, o que permitia uma melhor manobra dos mesmos; os vagões ganharam extremidades rebaixadas, onde os canhões, agora instalados em torres giratórias, foram instalados, permitindo que os trens pudessem atacar todos os lados ao mesmo tempo, mantendo-se a mesma tripulação padrão anterior de 18 pessoas. Também ganharam pintura camuflada, com dois tons de verde escuro para se confundir com a mata e um de azul claro para fazer alusão ao céu, ajudando no disfarce do mesmo enquanto não estava sendo utilizado.

Finalizados no começo de agosto, ambos foram enviados para linhas próximas da divisa com Minas Gerais, onde se desenvolveram muitos dos combates da guerra. O TB-5 foi sediado em Mogi Mirim, estrategicamente fazendo incursões noturnas até Itapira e Eleutério, locais onde forças inimigas estavam posicionadas. Ambas as unidades ajudaram a bloquear totalmente a entrada de tropas em território paulista naquela região, tendo as mesmas só adentrado um pouco mais acima, na região de Mococa. 

O TB-5, já completo e pronto para ir para as linhas de combate, visto em foto oficial em Campinas. Créditos: Cia. Mogiana de E. F..

Por fim, eis que surge a última unidade, batizada de TB-6: o maior e mais potente de todos os trens blindados, também o único apto a operar nas linhas de bitola larga, construído pela oficina ferroviária do bairro do Brás, em São Paulo capital, para uso da E. F. Central do Brasil. Voltado a trabalhar no Ramal de São Paulo, linha férrea que liga a capital até o Rio de Janeiro cortando todo o Vale do Paraíba, participou de combates em locais como Cruzeiro, Queluz, Resende e Itatiaia, onde ganhou o apelido pelo qual todos ficaram conhecidos: "O Fantasma da Morte". Sorrateira, a unidade chegava silenciosamente na calada da noite, em meio ao combate, e com seus potentes holofotes iluminava todo o campo de batalha, denunciando onde estavam alojadas as tropas inimigas; estas, tomadas de pavor, saiam correndo, em total desordem, deixando pra trás suas posições e armamentos, enquanto eram alvejadas pelos paulistas. Este, ao contrário dos outros, era composto não de dois, mas de três vagões, também completamente blindados e com estrutura reforçada, e incorporando neles todas as melhorias anteriormente desenvolvidas nos demais TBs. Conseguiu seu intento na Frente Norte, a que jamais se rendeu e nunca deixou os brasileiros invadirem São Paulo pelo Sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O grande e mítico TB-6, que causou pânico e terror em suas operações no Vale do Paraíba. Nota-se o canhão, posicionado dentro da parte frontal do primeiro vagão. Autor desconhecido.

Terminada a Guerra Paulista, em meados de outubro, uma das condições impostas pelo governo federal foi que todo o armamento pesado dos paulistas fosse confiscado ou desmontado. Todos os trens blindados foram recolhidos a suas oficinas, onde tempos depois foram desmontados, e as locomotivas utilizadas retornaram para as condições originais, voltando ao tráfego convencional. Como memória das mais potentes armas de guerra utilizadas num conflito dentro do território de São Paulo. Repousam hoje, no alto da estação de Buri, os dois holofotes do antigo TB-3, tudo o que restou dos Fantasmas da Morte, em memória de um dos pontos mais célebres da engenharia militar paulista, e de todos aqueles que participaram dos combates. 

Aproveitamos para convidar nossos curtidores para curtir as páginas do museu que contribuiu para esta pesquisa, e que trabalha em prol do resgate da história e cultura ferroviária de São Paulo! 
https://www.facebook.com/museuferroviariopaulista/. Conheçam, participem e contribuam!

E divulgamos também a página do escritório do engenheiro que desenvolveu os trens blindados, que ainda existe! http://www.augustovelloso.com.br/index.php?idioma=pt

Por Thales Veiga.

sábado, 8 de julho de 2017

9 Motivos para a Secessão Paulista


9 de Julho de 1932 foi o dia em que São Paulo declarou guerra ao Brasil. O objetivo disso era restabelecer o Estado de Direito no país, trazendo-lhe uma constituição. Contudo, embora todos se engajassem bravamente para proteger São Paulo, as opiniões eram divergentes em relação à permanência ou não de São Paulo na terra brasilis. Como guia do movimento, a permanência levou vantagem. 

Porém, a corrente independentista contava com figuras ilustres, como já mostramos aqui. Essas pessoas alertavam o perigo de optar pela união política com a grande ameaça que era o Brasil. E 85 anos depois, os paulistas podem sentir o quão certos essa corrente estava. A situação piorou e a Nação Paulista hoje está numa prisão desesperadora. Todavia, não devemos desprezar o sacrifício daqueles homens e mulheres que lutaram por São Paulo. Devemos nos espelhar em sua coragem e lembrar que ainda há tempo para corrigirmos os nossos erros.

Veja nesse dia especial 9 motivos para a secessão paulista:

1. Eventos Históricos
Aclamação de Amador Bueno. Óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva.
Para quem acha que essa história de independentismo é recente, São Paulo apresenta 5 episódios relacionados ao longo do tempo:

- Aclamação de Amador Bueno (1641)
- Guerra dos Emboabas (1707-1709)
- Revoltas Liberais (1842)
- O Separatismo do Partido Republicano Paulista (1887)
- Revolução Constitucionalista (1932)

Nem todos esses foram independentistas, porém serviram de alguma maneira para ativar o sentimento nacionalista dos Paulistas. Nota-se ainda que, embora 1932 tenha sido um evento para o restabelecimento da ordem no Brasil, havia muitos secessionistas de peso no movimento, dentre os quais estão Monteiro Lobato, Guilherme de Almeida, Alcântara Machado, Costa Manso e outros..

A história completa de cada evento está aqui.

2. Cultura e Tradições
Semana das Monções em Porto Feliz, festa que relembra os heroicos atos dos Bandeirantes que se embrenhavam pelos rios da América do Sul para colonizar o continente.
As tradições e a cultura paulista são de exímia riqueza e de uma abrangência extremamente grande. Alguns exemplos que podemos citar são: a tradicional coxinha (sim, este é um prato típico paulista), a famosa Festa do Peão em Barretos, a Sala São Paulo (apontada pelo Jornal The Guardian entre as 10 melhores do mundo), o estilo de vida caipira do interior, as histórias dos bandeirantes, dentre outras coisas.

Não podemos deixar nossa riqueza cultural se inclinar perante o estereótipo brasileiro do futebol-carnaval-samba. Nós, paulistas, não devemos permitir que essa conjunta obra intelectual do século passado, com finalidade exclusiva de forjar e forçar um "nacionalismo", ofusque nosso brio.

3. Arrecadação de Impostos

A imagem fala por si só. Dos 492 BILHÕES que são recolhidos em solo paulista, apenas 8% retornam para nós. Nossa situação é a pior do mundo em comparação aos demais movimentos separatistas, como Catalunha, Texas, Quebec, Escócia etc.

4. Representação Política

A desproporção na representação política dos estados que compõem a União é gigantesca e, pra variar, quem mais sai prejudicado é São Paulo. Para eleger um deputado federal, o voto de um paulista vale quase DEZ VEZES menos que de um roraimense. Isso mostra o descaso com que somos tratados e a subjugação a que somos sujeitos ao termos nossos interesses deixados em segundo plano por essa desproporção.

Saiba mais sobre aqui.

5. O Pacto Federativo

Rodrigo Mezommo (advogado e pré candidato à prefeito do Rio nas eleições passadas) e outros políticos e referenciais que nada têm a ver com a causa paulista já alertam sobre o grande problema que é o pacto federativo brasileiro. Este que, em tese, deveria conceder maior autonomia para os estados resolverem seus assuntos e gerirem seu orçamento, hoje é uma maquina estatal burocrática que somente atrapalha o desenvolvimento de cada região e faz com que prefeitos e governadores peçam "esmola" para Brasília. 

São Paulo precisa de autonomia e liberdade, por isso é necessário que não apenas revejamos, mas que rompamos com este pacto, dado o histórico de centralização dentro do Brasil, que a cada vez que tem um recomeço constitucional, acaba se centralizando no decorrer dos anos ou então rompendo a autonomia com golpes, como em 1930. Não se pode confiar no governo brasileiro.

6. Tendência Mundial

Em 1940 o mundo contabilizava apenas 60 países. Hoje, mais de 70 anos depois, a soma chega a quase 200. Podemos citar alguns exemplos atuais de separação como o Sudão do Sul, Kosovo e também aquelas regiões que estão próximas da secessão, como a Catalunha, dentre outros inúmeros movimentos (mais ou menos fortes dependendo do lugar) existentes por aí.

Veja mais aqui.

7. PIB

A imagem é nítida ao mostrar a discrepância econômica de São Paulo para com o resto do país. Segundo o levantamento de 2013, somos responsáveis por 32,6% do PIB brasileiro, o equivalente a 1,7 trilhão de reais. Isso nos colocaria na 20° posição mundial e à frente de países como Portugal, Islândia, Argentina e outros. 

Acreditamos na capacidade produtiva de todos os Estados da América Portuguesa, mas temos ciência de que Brasília tenta a todo custo frear o desenvolvimento de São Paulo e outros estados, já que Brasília trata muitos de nós como meras colônias. Faz-se mister que todos sejam livres pra seguir o próprio caminho, sem que uma terra distante dite as regras do que podemos ou não fazer.

8. Parques Tecnológicos e Universidades
Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, a mais antiga de São Paulo. Pintura por Cristiane Carbone.

Segundo o levantamento da Quacquarelli Symonds (QS), realizado em 2015, a Universidade de São Paulo é a melhor da América Latina, seguida da Unicamp em segundo lugar e da Unesp em oitavo. Além das universidades, São Paulo possui três parques tecnológicos localizados em Campinas, São José dos Campos e São Carlos. Isso mostra não apenas o nosso desenvolvimento, mas nosso potencial científico e tecnológico pra sermos uma verdadeira potência mundial.


Saiba mais aqui, aqui e aqui.

9. Possibilidades Futuras

Conforme visto, São Paulo tem tudo para ser um dos países mais ricos e desenvolvidos do planeta. Além de nosso potencial econômico e de nossa riqueza cultural, somos ainda pioneiros da liberdade em solo americano. Se votarmos pela liberdade de São Paulo, poderemos ter muito mais dinheiro para investimento e suprimento de nossas carências, muito mais liberdade individual, muito mais proximidade entre o eleitor e o político, rompimento com toda a burocracia e atraso brasileiro, além de uma chance única de moldarmos um país do 0 a partir de nossas preferências como povo.

E você? Gostou dos nossos motivos? Está convencido? Gostaria de adicionar mais um a essa lista? Divida connosco!

Por Lucas Pupile e Vinícius Lima

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