terça-feira, 23 de maio de 2017

Uma Analogia Independentista



Prezado leitor, você, com certeza, deve ser alguém cheio de qualidades. Uma pessoa incrível com suas próprias peculiaridades. Individualidades que te tornam único! Imagino também que deva possuir irmãos, amigos e colegas. Pessoas que também possuem características próprias de modo a se tornarem especiais pra você. Seres humanos verdadeiramente dignos do seu amor e admiração.


Sendo assim, pense na seguinte situação hipotética:

Imagine que 27 de vocês passem a ser obrigados a morar juntos. A partir de agora dividirão o mesmo teto, comerão o mesmo pão e terão o mesmo padrão de vida. Tudo isso, 365 dias por ano pelo resto de suas vidas. Aquele seu amigo mais mandão será agora o chefe da casa. É ele que decidirá como o salário de vocês será gasto e o que vocês podem ou não podem fazer dentro e fora de casa, interferindo também na relação de qualquer um dos moradores com as pessoas de fora. De 4 em 4 anos, vocês poderão tentar influenciá-lo por meio de votação a agir de determinada maneira que os agrade mais.

Bem, são pessoas que você ama, não é mesmo? Cada qual com suas qualidades. Não há de ser ruim! Pelo contrário, será espetacular uma casa com tanta diversidade de opiniões, culturas, credos e vontades! Ou será que não?

Vamos chamar esse seu amigo nomeado chefe da casa de Brasília. Ele então começa a despejar leis pra todos vocês alegando que é pro bem coletivo. Entretanto, enquanto o seu amigo Paraná se dá bem com a mais recente lei de Brasília, seu outro amigo Sergipe não consegue se adaptar.
São Paulo, aquele parceiro "workaholic", que quase nunca para em casa começa a reclamar acerca da repartição das rendas. O Ceará também comentou contigo semana passada que não consegue achar um emprego que se adéque às exigências de Brasília. Enfim, diante desse verdadeiro caos que começou a surgir, você então propõe uma reunião pra Brasília.
Ele, após avaliar demoradamente seu questionamento, disse que marcaria pra Sexta-feira às 17h. Horário bom pra todos. Menos pra Pernambuco que ficou confuso se era às 17:00 mesmo ou 18:00. Mato Grosso do Sul e uma galera entendeu ser às 16:00. E o Acre que ouviu ser as 15:00? Bem, mesmo com essa confusão, a reunião aconteceu e, com todos sentados ao redor da mesa verde e amarela da sala, você então levanta a voz e diz:

- Acho que devemos cada um ter sua própria casa, gente. Eu gosto muito de vocês, mas isso está fazendo mal pra nossa amizade. Vejo brigas e dissensões entre alguns aqui. Cada vez o clima fica mais pesado. Alguns já nem enxergam mais qualidades nos outros. Se cada um for pro seu canto, viver do jeito que lhe for mais conveniente, ainda podemos sair de final de semana. Com certeza faremos negócios de vez em quando. Aposto que uns aqui dentro até abririam as portas pro outro vir sempre que quiser. Estamos perdendo tempo e dinheiro assim! Estamos desnecessariamente nos tornando inimigos!

Todavia, a reação da galera não foi nada boa. Devido à lavagem cerebral que Brasília faz todos os dias em vocês, todos estão acreditando que um não conseguirá sobreviver sem o outro, sendo que isso é uma mentira! Então, te insultaram. Disseram que você não os amava mais. Que estava cego e louco. Que era um arrogante, prepotente e preconceituoso. Brasília reafirmou tudo que disseram e até ameaçou te castigar. Você, maior de idade, castigado por um amigo.

O que você faz diante dessa situação? Você tem duas escolhas:

1) Ficar na casa, ter sua vida regulada por Brasília, ter a maior parte de seu salário confiscado, sem que possa fazer grandes coisas. Ter sua dignidade ferida todos os dias. Suportar Brasília dizendo aos outros que você quer se aproveitar deles, que é arrogante e prepotente, mas que não tem maturidade suficiente nem pra lavar sua própria privada, o que é mentira!

2) Insistir pra sair, enfrentar aquilo que vier e tentar mostrar pra todos que ali estão que Brasília os está matando. Quem sabe, até sair com um dos teus amigos pra um novo apartamento, melhor organizado e sem ninguém regulando a vida do outro.

Qual é a escolha mais sã? Aí, é com você!

Por Vinícius Lima.


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13 Curiosidades sobre os Bandeirantes


Embora pouco reconhecidos pelo mundo, os Bandeirantes foram os maiores exploradores não-oceânicos de que a nossa espécie já teve notícia. Tal como os antigos fenícios, os vikings ou os primeiros ibéricos (portugueses, bascos, castelhanos etc.) que se lançaram ao desconhecido com as poucas ferramentas que tinham, os Bandeirantes empreenderam conquistas sem as quais a humanidade não seria a mesma nos dias de hoje.


Partindo do leste do atual São Paulo, enormes grupos de brancos, caboclos e índios seguiam pelas matas pouco exploradas em busca de riqueza e dignidade perante as dificuldades que se lhes apresentavam numa capitania jogada à própria sorte. Essas aventuras são conhecidas como Bandeiras e Monções e duraram três longos séculos, construindo um legado que ainda pode ser observado hoje.

Em relação às expedições dos nossos antepassados, o francês Auguste de Saint-Hilaire declarou:
«Depois que se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis dos antigos Paulistas, fica-se como estupefato e levado a crer que esses homens pertenciam a uma Raça de Gigantes.»
Então, hoje lhes trazemos algumas curiosidades sobre aqueles que foram partícipes desse fenômeno de conquista e expansão.

1. O PRIMEIRO BANDEIRANTE FOI UM PORTUGUÊS QUE ESCOLHEU SER PAULISTA
Estátua em homenagem a João Ramalho em Santo André. Créditos: My Heritage.
O primeiro bandeirante foi o marrano João Ramalho, que foi o responsável pelo começo da colonização do Planalto de Piratininga, onde hoje se situam as cidades de São Paulo, Santo André, São Caetano do Sul e outras. 

Ramalho era casado com Bartira, mulher pertencente à realiza tupiniquim e esse casamento representou a união entre a Europa e a América, que daria origem aos Paulistas. A partir disso, os inimigos dos portugueses tornaram-se inimigos dos tupiniquins e os inimigos dos tupiniquins tornaram-se inimigos dos portugueses. Nos anos seguintes, ambos os povos se entrelaçaram tanto que deram origem a um novo, o Paulista, fruto da união de dois continentes. Razão essa pela qual João Ramalho é considerado o Pai dos Paulistas, ao passo que Bartira é a mãe.

2. VALENTES, ESSES HOMENS AUMENTARAM OS TERRITÓRIOS DO IMPÉRIO PORTUGUÊS

Seja em nome do Reino de Portugal ou como aventuras privadas, as Bandeiras levaram as fronteiras lusitanas até além dos tratados estabelecidos no século XV com o Reino de Castela. Assim, pode-se dizer que Portugal foi tão poderoso por causa dos Bandeirantes, que em busca de riquezas para si, acabaram enriquecendo a Corte. 

3. ELES VIVIAM NUMA GUERRA CONSTANTE COM OS JESUÍTAS

Os Bandeirantes, Henrique Bernardelli, 1889.
O que se sabe com certeza é que os jesuítas odiavam os Paulistas e o ódio era recíproco. Já quanto aos motivos, os historiadores discordam entre si. Boa parte deles diz que os jesuítas defendiam os direitos dos índios para que os pudessem converter e os Bandeirantes os violavam para que os pudessem ter como servos, fazendo-os assim inimigos por causa dos distintos interesses. 

Já outra parte dos historiadores defende que esse não era o único motivo. Jaime Cortesão e Anita Novinsky defendem que o motivo era que os jesuítas viam os Bandeirantes como sujos devido às suas origens marranas. Sendo assim, discordavam deles em tudo e os tentavam eliminar a todo custo. Durante o domínio castelhano, a Inquisição se abateu sobre os Paulistas e quase consumiu com Raposo Tavares. Quando da restauração da independência de Portugal, o inquisidor-mor de Lisboa chegou a ser contra o restabelecimento do Reino, pois assim a Inquisição não poderia perseguir os Paulistas.

Contam ainda que é um mito essa imagem doce dos jesuítas, já que esses também usavam indígenas como escravos.

Ainda em relação a essa peleja, há o fato de que na iconografia das Missões, o diabo era representado como um Bandeirante Paulista, com barba e roupas típicas, para que os índios soubessem quem era o inimigo. Mas tudo isso você pode conferir melhor nesse artigo

4. SEU IDIOMA ERA O PAULISTA
As rotas do Português Paulista, da Revista Pesquisa Fapesp.
Embora falassem português e muito provavelmente também castelhano, os maiores sertanistas de São Paulo se comunicavam sobretudo em Língua Geral Paulista, idioma híbrido de tupi com português e outras línguas latinas. Eles só pararam de falá-lo com a proibição do Marquês de Pombal no século XVIII.

E é por causa desse idioma que o sotaque caipira no português está espalhado por muitos lugares da América Portuguesa.


5. ELES FUNDARAM MUITAS CIDADES POR ONDE PASSARAM
Laguna, Santa Catarina. Créditos na foto.
Existem inúmeras cidades espalhadas pela América Portuguesa que foram fundadas pelos Bandeirantes. Algumas delas são Salto, Itu, Porto Feliz, Ouro Preto, Mariana, Ladário, Goiás Velho, Laguna e outras.
6. E ESPALHARAM A CULTURA PAULISTA PELA AMÉRICA DO SUL
Imagem da Paulistânia confeccionada por Vinícius Lima, da equipe OSP
Os Bandeirantes percorreram a América em busca de riquezas e aumentaram as fronteiras paulistas. Por causa disso, a nossa cultura foi levada pra outros lugares e está presente hoje em muitos estados da América Portuguesa, como Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e outros. A região construída por eles pode ser chamada de Paulistânia ou de São Paulo Grande.

7. OS PRIMEIROS BANDEIRANTES VIERAM PARA SÃO PAULO PARA FUGIR DA SOMBRA DA INQUISIÇÃO
A pesquisadora Anita Novinsky em imagem da Folha de São Paulo.
Segundo a pesquisadora polonesa Anita Novinsky, boa parte dos Bandeirantes eram judeus ou cristãos novos que haviam saído de Portugal para se manter longe da Inquisição. Esses homens trataram São Paulo como a Terra Prometida, onde poderiam enfim ter a liberdade que lhes fora negada.


8. UM DESSES HERÓIS REALIZOU UMA DAS MAIORES FAÇANHAS DE QUE A RAÇA HUMANA TEM REGISTRO
Retrato de Raposo Tavares. Foto original no site História de Salto.
Em maio de 1648, o recém independente Portugal chamou o ilustre Dom Raposo Tavares para cumprir uma missão para a Coroa, porém parte dela permaneceu durante muito tempo em segredo. O objetivo oficial era reconhecer pontos com metais preciosos, e a parte secreta era identificar o território sul-americano de modo a apontar os locais mais vitais e importantes para Portugal tomar posse colonizando-os. 

Partindo de São Paulo pelo Rio Tietê com 200 paulistas e mais de 1000 índios, atingiram o Mato Grosso, em seguida rumando pelo Rio Paraguai alcançando o Peru até Quito, a capital do Equador, depois seguindo ainda a Belém do Pará, em 1651. Devido à perseguição dos espanhóis, apenas 59 paulistas e alguns poucos índios conseguiram chegar ao destino final, mas a missão foi cumprida. Entrou para a história como A Bandeira dos Limites ou A Grande Marcha Paulista.

A realização dessa empresa o deixa na lista dos maiores exploradores que o mundo já conheceu, tendo ele percorrido uma distância maior que a que Marco Polo calcorreou desde Veneza até a China.

9. CADA CAMINHO ABERTO POR ELES SE TRANSFORMOU NUMA ESTRADA NOS DIAS ATUAIS
Analogia entre os Bandeirantes e o progresso de São Paulo.

As principais rodovias de São Paulo - Anhanguera, Bandeirantes, Raposo Tavares e Fernão Dias - seguem a direção para onde se seguiam as Bandeiras. A Anhanguera segue para Minas Gerais e Goiás, tal como era o destino de Bartolomeu Bueno. A Raposo Tavares segue para o Mato Grosso do Sul, terra para a qual se deslocou o bandeirante de mesmo nome quando da época da Bandeira dos Limites. Da mesma maneira é a Fernão Dias, que segue para onde seguia o bandeirante de nome correspondente.

Na seguinte foto é possível perceber o que estão iluminados as veias bandeirantes de São Paulo. 



Litoral Atlântico da América do Sul. 

10. ENQUANTO ESTAVAM FORA, A SAUDADE ERA CONSTANTE EM SÃO PAULO DE PIRATININGA
Saudade, 1899. Obra do pintor Almeida Júnior.
É fácil imaginar o motivo do espírito das Bandeiras ter permanecido nos Paulistas mesmo após séculos. Por vezes, tantas Bandeiras saíam de São Paulo de Piratininga que a população se reduzia a mulheres, padres e idosos. A saudade era um sentimento constante, assim como a incerteza.


11. ELES NÃO PERCORRIAM APENAS DISTÂNCIAS TERRESTRES
Mapa das Rotas Monçoeiras, confeccionado por Vinícius Lima, da equipe OSP.
Muitas expedições partiam pelo rio Tietê rumo ao interior do continente. A última fase do Bandeirismo é conhecida como Era Monçoeira. Nessa época, centenas de homens partiam da cidade de Porto Feliz e seguiam por caminhos penosos nos rios que cortam a América Portuguesa. 

12. COM OS AMIGOS NATIVOS APRENDERAM HABILIDADES QUE OS AJUDARAM A PERCORRER GRANDES DISTÂNCIAS

O Bandeirante Domingos Jorge Velho, de Benedito Calixto. 
Diz Sérgio Buarque de Holanda em Caminhos e Fronteiras que os Bandeirantes tinham algo que os seus colegas do reino repudiavam, que era a capacidade de absorver práticas e costumes indígenas e usá-los para a sobrevivência nessa nova terra. A despeito da reprovação, foi só graças a isso que conseguiram empreender feitos tão extraordinários rumo ao interior dum sub-continente que somava quase duas Europas.

Dentre essas habilidades nativas de que se dispunham os Bandeirantes estavam a capacidade de identificar a utilidade das plantas pelo cheiro e pelo gosto, bem como saber quando se aproximavam animais e inimigos apenas pelo som distante e também um senso de orientação estupendo, com o qual conseguiam traçar mapas não só no papel, mas também com os materiais que se dispunham nas matas. Assim, sabiam que rios eram irregulares e que tipo de desafios geográficos poderiam encontrar pelo caminho.


13. ESSES HOMENS ATÉ HOJE SÃO GLORIFICADOS NOS RINCÕES CONSTRUÍDOS POR PAULISTAS
Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, na Capital Paulista. 
Existem homenagens aos Bandeirantes em toda a Nação Paulista e também nos territórios que um dia a compuseram. Em SP, todas as principais rodovias homenageiam os Bandeirantes, conforme o caminho que percorreram. A sede do governo paulista é o Palácio dos Bandeirantes e as avenidas das cidades muitas vezes são batizadas com o nome deles. Em Goiânia, São Paulo e outras cidades existem várias estátuas de devoção aos pioneiros.

A Herança

Diante de todas essas informações, podemos concluir que São Paulo só existe hoje do jeito que é graças a esses pioneiros que se aventuraram pelo desconhecido, desafiando as circunstâncias e construindo algo que sobreviveu por gerações. A eles também devem muito o Império Português e o Brasil, pois sem suas conquistas, esses menos seriam.

Não é de se surpreender o que outrora disse o governador português António Pais de Sande acerca dos Paulistas: 
«São briosos, valentes, impacientes da menor injúria, ambiciosos de honra, amantíssimos da sua pátria, benéficos aos forasteiros e adversíssimos a todo ato servil, pois até aquele, cuja muita pobreza lhe não permite ter quem o sirva, se sujeita antes a andar muitos anos pelo sertão em busca de quem o sirva, do que a servir a outrem um só dia.»
Sobre a Historiografia Bandeirante ainda há muito que se descobrir e discutir, pois é um período pouco estudado para o tamanho de sua importância. Mas aos poucos, conseguimos compreender a importância dessas façanhas que, segundo Taunay, não encontram similares na história de qualquer povo que já tenha habitado esse pequeno globo.

Bibliografia

CORTESÃO, Jaime. Raposo Tavares e a Formação Territorial do Brasil in Obras Completas, vol. 9, Portugália Editora, 1958.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
MELLO, J. S. Emboabas. São Paulo: Governo do Estado, 1979, p. 40-42
NOVINSKY, Anita. A “Conspiração do Silêncio”: uma história desconhecida sobre os Bandeirantes Judeus no Brasil (Acesse aqui: http://migre.me/vdljh)
TAUNAY, Afonso d'Escragnolle. História das Bandeiras Paulistas, 2012.

- Lucas Pupile



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sábado, 20 de maio de 2017

O Magnetismo de Ilhabela, o Triângulo das Bermudas Paulista

Um dos naufrágios - este sim planejado - e que hoje serve como ponto de mergulho. Foto: portal Em Ilhabela.

Concar, Dart, Theresina, Principe de Asturias... estes são os nomes de algumas das mais famosas das centenas de embarcações que já naufragaram em Ilhabela, no nosso Litoral Norte. Mas o desastres não se restringem apenas à navios: até um avião fora tragado para o fundo do mar. Mas qual a causa deste fenômeno?



"Até hoje só vi um barco desafiar a [Ponta da] Pirabura e sair ileso. Era um inglês. Mas a maldição foi buscá-lo lá perto do Rio de Janeiro e ele se espatifou contra os rochedos de uma ilha. Podem não acreditar nesse mistério, mas ele existe. E para provar que existe, guarda embaixo da Pirabura mais de 10 navios naufragados." (Sr. Jacinto, pescador e residente da Praia do Bonete).

As dificuldades de navegação na região da Ilha Bela advém de tempos remotos: já a esquadra de Martim Afonso, que oficializou a colonização de São Paulo, em 1532, enfrentou diversas dificuldades quando passava entre a ilha e o Arquipélago de Alcatrazes. A nau "Capitânia" desapareceu; somente na manhã seguinte seus 30 náufragos, dentre eles Martim Afonso, o chefe da expedição colonizadora, foram achados na costa da ilha - um, infelizmente, morreu após entrar em estado de choque. Nos séculos seguintes, novamente há registros de navios europeus tendo problemas na região, seja por tempestade, falta de visibilidade ou rumo incorreto. Por conta dos parcos registros, fica difícil saber a quantidade exata de navios atingidos no período, mas há notícia do pirata "Pamelar" (1721), da galera "Commercio Maritimo" (1828) e do brigue "Cacique" (1853). Entretanto, na segunda metade do século XIX, o cenário começa a mudar.

Após a década de 1850, quando São Paulo iniciou seu processo de industrialização, o tráfego de navios, sobretudo para Santos, começou a crescer vertiginosamente. O primeiro navio "moderno" de grande porte vítima do magnetismo fatal de Ilhabela foi o inglês "Crest" que, na madrugada de 12 de dezembro de 1902, perdeu seu rumo e acabou se chocando nas proximidades de Borrifos. Carregando uma carga de café, havia saído de Santos no mesmo dia com destino a New York.

Um dos muitos mapas vendidos na cidade, que trazem consigo, além das informações normais como estradas e praias, a localização dos principais naufrágios. Créditos: Ilhabela Web.

Dois anos depois, outro desastre assola a região: o "Dart", construído pela inglesa Royal Mail Steam Packet exclusivamente para a rota Santos - New York. O novíssimo navio se perdeu numa tempestade e colidiu com uma laje subterrânea, vindo a naufragar na Ponta de Sepituba. Todos os 56 passageiros e 4 dos 5 tripulantes sobreviveram - a exceção foi o oficial chefe Willian H., arremessado para fora do navio com o violento impacto. Em 1906, mais um navio inglês era perdido na região: o luxuosíssimo "Velásquez", com apenas 30 meses de operação. O navio se perdeu em meio a serração mas, por sorte, ficou preso nas pedras e não veio a afundar de imediato, o que permitiu o resgate. Fato semelhante acometeu o "Hathor", apenas 4 meses depois. Entretanto, a primeira tragédia com grande número de mortes ocorreu no dia 3 de outubro de 1913, com o rebocador "Guarany", da Marinha do Brasil, que participava dos exercícios de defesa da Primeira Guerra Mundial. Em meio a cerração, o rebocador se perdeu dos demais e foi atingido pelo navio "Borborema", que passava nas proximidades. Afundou em apenas 2 minutos, levando consigo 31 vidas.

Em 1916, o mundo acorda atônito com a notícia da grande tragédia, ainda abalado pela lembrança do Titanic: o paquete de luxo "Principe de Asturias", que ligava Barcelona à Montevideo, passando por Valência, Málaga e Cádiz. Constituindo-se em uma das maiores tragédias já vistas no país, veio a se chocar com a Ponta de Pirambura no domingo de Carnaval, levando consigo para o fundo do mar cerca de 477 vidas num terrível naufrágio que durou apenas 5 minutos. Muitos outros faleceram no mar ou em terra, em relatos tristes e pavorosos. Falaremos mais sobre o navio num artigo específico. Mas fora preciso um grande acontecimento deste porte para que o governo finalmente se manifestasse, após as pressões populares, e decidisse instalar alguns faróis para tentar melhorar a navegação em Ilhabela, que só foram concluídos 16 anos depois.

Impressão artística do desastre do "Principe de Asturias": tragédia foi capa de jornal e deixou 477 mortos. Créditos: Navios e Navegadores.

Neste meio tempo, mais navios sofriam problemas: os encalhes e posterior naufrágio dos "Therezina" (1919) e "Aymoré" (1920), "São Janeco" (1929) e "Concar" (1959). Em 1961, foi a vez do barco pesqueiro "Urucânia", que só não vitimou toda sua tripulação pois pessoas que estavam na ilha conseguiram atirar uma corda e resgatar todos os 20 ocupantes pouco antes da embarcação afundar. Alguns meses após, um avião T-6D da Força Aérea realiza um pouso de emergência. Há também outros navios que não chegaram a afundar mas também encalharam nas pedras: "Victoria" (1905), "France" (1906), "Western World" (1931), "Hamilton Lacke" (1960), entre outros. Os problemas finalmente cessam com o advento do GPS, entretanto as anomalias continuam sendo sentidas até hoje por navios e aviões que passam pela região, com indicações contraditórias de seus instrumentos.

Explicações

Como dito, logo após o desastre com o "Principe de Asturias", em 1916, a opinião pública recaiu a culpa para a falta de sinalização - na época, só havia um farol, o da Ponta do Boi, que acabava por não sinalizar outras pontas ou ilhas existentes, as quais sumiam da vista em meio à serração ou tempestade. Com a inauguração dos faróis da Ponta de Pirabura e da Ilha Vitória, 16 anos depois, o número de incidentes diminuiu consideravelmente, mas ainda assim deixava muitas perguntas.

Foi observando este fato que o pesquisador grego Jeannis Platon, radicado em São Paulo, levantou a hipótese de um fenômeno conhecido como "desvio magnético". Antes da popularização dos sistemas GPS, os navios se guiavam por meio de bússolas; estas acabariam sofrendo alterações de indicação ao serem atraídas por minerais presentes na ilha, o que acabaria colocando os navios em uma rota diferente da original. O primeiro relato sobre o fenômeno como causa dos acidentes foi do chefe da Capitânia dos Portos, quando do desastre do "Principe de Asturias". Um contra-almirante da Marinha também relatou "os navios procedentes do nordeste, ao se aproximarem da Ponta do Boi têm, frequentemente, verificado regular caimento para a costa, capaz de os ensacar perigosamente", o que motivou uma pesquisa da Comissão de Exploração Geográfica e Geológica de São Paulo, que confirmou as anomalias magnéticas na costa norte de Ilhabela.

O Farol da Ponta do Boi, parte do fraco sistema de sinalização, uma das causas para os naufrágios. Créditos na foto.

Platon constatou, por algumas vezes, também falhas no motor e/ou sistemas elétricos de sua embarcação; relata também o ocorrido com um amigo, à frente de um rebocador da Petrobrás: "O rumo estava ajustado para a entrada norte do canal, quando a neblina fechou completamente. Assim que melhorou um pouco a visibilidade, avistei primeiro o Pico do Jabaquara na proa (desvio de 30º na bússola). Grande susto! Já estava próximo às pedras. Outras ocorrências aconteceram em navios de maior porte perto da Ponta do Boi. Este trecho demanda extrema atenção.". Finalmente, após um Aviso aos Navegantes publicado em 1970, a Marinha do Brasil confirmou as anomalias magnéticas.

Segundo o pesquisador Inácio Malmonge Martin, físico e pesquisador do ITA, "o campo magnético das rochas existentes em Ilhabela propiciava o afundamento de navos, porque é, muitas vezes, maior que o da Terra, que orientava a bússola com valor de aproximadamente 0,3 Gauss. A unidade de medida do campo magnético é o Tesla. Um Tesla é igual a 10000 Gauss. Logo, as rochas com valores de 0,1 ou mais Tesla influenciavam as bússolas dos navios. Esse problema foi superado com o GPS, com cálculos de 3 ou mais satélites e um receptor de ondas eletromagnéticas no navio. Através do GPS tem-se a posição com precisão de até 2 a 3 metros".

Hoje - O Refúgio Eterno

Com seus diversos naufrágios, que reúnem não só os navios aqui relatados de forma breve, mas também de outras embarcações, algumas vítimas de batalhas contra piratas ou mesmo de submarinos da Primeira Guerra Mundial, Ilhabela é a principal referência para mergulho e arqueologia submarina do país. A partir de excursões que partem da própria cidade ou de São Sebastião, é possível mergulhar em algumas das embarcações que hoje repousam no fundo do mar, como o caso da que ilustra este artigo. Também foi inaugurado, em 1993, o Museu Náutico, que conta com mais de 1500 peças resgatadas dos navios, como louças, roupas e utensílios, além de maquetes e acervo documental.

Mantido pelo poder público, o museu funciona de terça a domingo, das 10 às 18 horas, na Rua José Bonifácio, s/n, bairro Água Branca; o telefone é (12) 3896-3757. A entrada é gratuita.

Objetos pertencentes ao "Principe de Asturias", expostos no Museu Náutico de Ilhabela. Créditos na foto.

Bibliografia para consulta:

- "Diário de Navegação de Pero Lopes" (1534) - Pero Lopes de Souza
- "Ilhabela e Seus Enigmas" (2006) - Jeannis Michail Platon

Por Thales Veiga.


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sexta-feira, 19 de maio de 2017

15 Grandes Obras de Pintores Paulistas

Todo mundo seguramente já ouviu falar dos grandes pintores europeus que mudaram não só a realidade de seus países, mas a do mundo. Mestres como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Delacroix etc. são muito estudados mundo afora. Mas você sabia que a Nação Paulista também produziu obras maravilhosas que são muito importantes para a nossa identificação como povo?

E por mais incrível que possa parecer aos ouvidos leigos, a Pintura Paulista é riquíssima e variada. Uma lista de apenas 15 itens não conseguiria retratar todas as nossas obras-primas. Considerem essa postagem como uma pequena mostra daquilo que produzimos, uma introdução para artigos futuros em que falaremos da obra de cada um desses pintores separadamente. 

As obras aqui colocadas não pretendem ser postas como as melhores já feitas por artistas de São Paulo, e sim como grandes obras que merecem ser citadas e conhecidas. Confiram nossas escolhidas!

1. O Apóstolo São Paulo, Almeida Júnior, 1869

Nossa lista começa com o mais antigo quadro dessa lista. Pintado por Almeida Júnior, talvez o maior pintor Paulista de todas as épocas, o quadro retrata o homem que dá nome à nossa nação, o apóstolo Paulo de Tarso. Em alegoria à luta por Cristo, o ancião serenamente porta uma espada e aos fundos é possível ver uma paisagem helênica, podendo representar qualquer um dos lugares em que o a cultura greco-romana alguma vez passou (atuais Itália, Grécia, Macedônia, Síria, Turquia etc.). Essa obra foi escolhida para abrir essa lista devido ao seu simbolismo, que nos lembra o objetivo do estabelecimento de São Paulo enquanto uma nação no até então desconhecido continente, que era ser um novo terreno da cristandade, com novas almas imersas nos valores de Cristo Jesus. 

A pintura foi uma das únicas obras religiosas de Almeida Júnior, mas carrega uma carga linda de dedicação e carinho, além de já implicitamente demonstrar o que Almeida Júnior faria no decorrer dos anos: se dedicar a retratar São Paulo.

Encontra-se hoje na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, em Itu, cidade natal do artista.

2. O Cristo Crucificado, Almeida Júnior, 1889

Outra das poucas pinturas religiosas de Almeida Júnior, O Cristo Crucificado mostra mais uma vez a devoção do pintor. Como se nota noutras pinturas de Cristo do artista, o Mestre Jesus está revestido de uma intensa luz na cabeça, representando a iluminação que suas ideias proporcionam nas mentes humanas.

Encontra-se hoje em poder da Pinacoteca de São Paulo.

3. Jesus no Horto, Benedito Calixto, 1896

Dois temas inter-relacionados eram os mais recorrentes na arte de Benedito Calixto: o regionalismo e a religiosidade. No primeiro quadro do autor que se apresenta nessa lista, podemos ver Jesus Cristo em oração no Horto das Oliveiras. Calixto o retrata com uma luz divina à cabeça para mostrar que o Alto lhe ouvia quando pedia ao Pai que afastasse de si a crucificação, mas que mesmo que fizesse esse pedido, queria que a vontade de Deus fosse feita, e não a sua. Essa é uma das cenas mais lindas no imaginário da Civilização Ocidental e não é difícil imaginar o motivo de ter sido escolhida pelo pintor.

Encontra-se hoje no Museu de Arte Sacra de Santos.

4. Estudo para A Partida da Monção, Almeida Júnior, 1897

A primeira pintura histórica da nossa lista tem uma abundância de elementos regionalistas ao mesmo tempo em que é fiel à história. Almeida Júnior escolheu as retratar o último período do Bandeirismo - que compreende a época em que eram realizadas pelos Paulistas as grandes expedições fluviais continente adentro. Aqui colocamos o estudo em vez do quadro final, por esse conter cores mais vivas e tipos humanos mais bem dispostos. Na obra se notam elementos recorrentes na História Paulista, como a religiosidade, a ousadia e a coragem, a saudade e a vocação para o trabalho. 

O quadro original se encontra no Acervo do Palácio dos Bandeirantes, em posse do governo paulista.

5. O Violeiro, Almeida Júnior, 1899

O Violeiro é não o mais conhecido, mas o mais clássico dessa lista! Pertencendo ao pintor que mais obras teve representadas, essa tela retrata uma cena típica do São Paulo do século XIX e que persiste ainda hoje com algumas adaptações. Na janela duma casinha pequena e simples, um senhor de olhos fechados toca sua viola, enquanto que sua mulher, com um lenço no pescoço, o acompanha no vocal. Ao olhar o quadro, é quase possível ouvir uma música bem calma e agradável falando da vida no campo, no estilo de A Tristeza do Jeca.

Encontra-se hoje na Pinacoteca de São Paulo.

6. Saudade, Almeida Júnior, 1899

Enfim, o item mais famoso dessa postagem. Saudade foi pintada por Almeida Júnior no ano de sua morte e é talvez o único quadro seu que é largamente estudado nas escolas fundamentais de toda a América Portuguesa. Sinal de que a genialidade do pintor foi capaz de transpassar o preconceito com a temática de sua obra e com o lugar de seu nascimento.

Ao se olhar para a cena, percebe-se uma jovem moça perto da janela de sua simples casa, que carece de maiores acabamentos. A roupa que usa está hoje em desuso, mas dava seus últimos respiros no fim do século XIX. Com fortes elementos mouro-marrano-ibéricos, era a roupa usada pelas mulheres mais humildes da Nação Paulista em toda a nossa história, e só foi totalmente substituída pelas roupas mais modernas no alvorecer do século XX. Em vez de ocultar essa presença mais humilde que certas pessoas faziam questão de apagar, Almeida as pinta, do jeito que as vê.

Ainda mais simbolicamente, o sentimento que toma conta e dá nome à obra é a Saudade, emoção muito presente durante a vida dos Paulistas nos primeiros séculos, devido à partida dos homens em direção ao desconhecido, sejam nas Bandeiras ou nas Monções, deixando suas mulheres, filhos e demais parentes no lugar da partida. Não se sabe para onde foi a pessoa que tanto amava a moça, mas é visível a sua consternação ao olhar para o retrato ou para a carta que leva nas mãos.

Encontra-se hoje na Pinacoteca de São Paulo.

7. Anchieta na areia de Iperoig, Benedito Calixto, 1901

Essa pintura é especial por dois motivos. O primeiro é por ser de Benedito Calixto, um dos maiores paulistas que já existiram, historiador e pintor de mão cheia (ou melhor, suave). O segundo é por retratar José de Anchieta, o jesuíta basco que ajudou a cristianizar a Capitania de São Vicente. Na cena, em território tamoio e em meio às negociações de paz com a tribo agressiva, o padre escreve na areia o seu Poema à Virgem, declaração de amor a Maria de Nazaré feita durante um momento de contemplação. Como curiosidade, ao chegar em São Vicente, Anchieta transpôs de memória para o papel o poema com quase 6000 versos.

Encontra-se hoje no Museu Anchieta, na capital paulista.

8. Naufrágio no Sirio, Benedito Calixto, 1907

O Naufrágio do Sirio é uma obra muito diferente das outras produções de Benedito Calixto. Nele, em vez de retratar uma cena tipicamente paulista como costumava fazer, o pintor reproduz um naufrágio ocorrido na costa da Espanha. Transportando 1700 pessoas, dentre elas 700 imigrantes italianos, o navio Sirio afundou naquelas terras em 1906, matando 300 pessoas e deixando 200 desaparecidas. 

Algumas personalidades conhecidas foram vitimadas no episódio, como o prior da Ordem dos Beneditinos de Londres e o monsenhor José Camargo de Barros, então bispo de São Paulo. 

Calixto se usou duma técnica diferente para dar vida à cena. Antes de pintar, o artista desenhou tudo, deixando a tela com um aspecto assustadoramente real, nos evidenciando ainda mais o desespero dos que viam suas vidas afundarem nas águas do Mediterrâneo.

Encontra-se hoje no Museu de Arte Sacra de São Paulo.

9. Coeur Meurtri, Nicota Bayeux, 1913

Nicota Bayeux é a artista menos conhecida dessa lista, mas isso não a faz menos talentosa. Nascida em Campinas, estudou em Paris e, quando voltou à América, expôs seus quadros na capital brasileira, o Rio de Janeiro, tendo impressionado a todos com a beleza de Coeur Meurtri. O nome da obra significa Coração Machucado em francês. Nela podemos ver uma moça, com aspecto triste e cara cansada, que parece ter sido muito ferida por alguém.

Encontra-se hoje na Pinacoteca de São Paulo.

10. A Estudante Russa, Anita Malfatti, 1915

Sem dúvida alguma, A Estudante Russa é uma das mais famosas obras de Malfatti, junto com O Farol. Pertencente ao Pós-Impressionismo, a obra foi produzida no começo da carreira da pintora, enquanto ainda morava e estudava em Berlim. Por causa disso, há diversas técnicas alemãs na tela. 

Pertence à Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

11. A Fundação da Vila de Santos, Benedito Calixto, 1922

Calixto foi um dos mais geniais pintores históricos que o mundo teve. Vivendo no no fim do século XIX e começo do XX, pintou suas telas viajando ao passado por meio de documentos e desenhos que tinham séculos de vida. E pouco surpreenderia se dissessem que viajou realmente ao passado, tamanha a sua exatidão ao pintar as paisagens paulistas do passado. Além desse grande talento, Calixto era orgulhosamente paulista e graças a ele temos um imenso material no qual nos apoiarmos para estudos históricos, já que cada quadro seu é uma tese diferente. Em sua obra, pode-se ver que não se preocupava em colocar a história de SP relacionada com a história brasileira como alguns historiadores desesperados ainda hoje tentam fazer, mas apenas a retratava com ela era: seguidora de um caminho distinto, com poucas relações com o restante da colônia. E é por esses fatores combinados que figura na lista mais de uma vez. 

A Fundação da Vila de Santos também mostra para nós a tentativa de mostrar em suas obras a importância que sempre teve Santos para a Nação Paulista, tendo sempre sido um dos portos mais importantes para o nosso desenvolvimento e além disso cidade onde floresceram diversos ideais que contribuíram para o nosso estabelecimento enquanto vanguarda.

Atualmente, o painel está fixado nas paredes da Bolsa do Café, em Santos.

12. Operários, Tarsila do Amaral, 1933

O único quadro de Tarsila do Amaral na nossa lista é Operários. Demos prioridade a ele, e não à sua mais famosa obra, por ser muito mais ligado à realidade paulista que qualquer outro que tenha produzido a artista. Sendo do começo do século XX, a pintura retrata a diversidade racial e cultural dos operários das fábricas paulistas da época. Nela podem ser vistos homens, mulheres, negros, brancos, amarelos, árabes, novos, velhos etc., todos dedicados ao trabalho.

Encontra-se hoje no Palácio da Boa Vista, residência oficial de inverno do governador paulista.

13. Café, Cândido Portinari, 1935

Café está nessa lista por descrever uma fase importantíssima da nossa história. O ciclo do café foi a época em que São Paulo deixou de ser uma província de secunda categoria e se tornou um dos lugares mais prósperos da América, com uma economia pujante e um padrão de vida que se elevava cada vez mais. Foi com o dinheiro do café que a Nação Paulista se industrializou no fim do século XIX e conseguiu estabelecer seu papel produtivo no mundo. 

E essas conquistas só foram possíveis graças ao esforço daqueles que empreenderam e arriscaram seus investimentos nessa cultura e também daqueles que trabalharam incessantemente nas lavouras de café, sejam eles negros, caboclos ou europeus imigrantes - e são exatamente essas pessoas as retratadas nesse quadro.

14. Guerra e Paz, Cândido Portinari, 1956

Portinari é o artista paulista mais conhecido internacionalmente e, a despeito de suas crenças e controversas, foi um exímio pintor. Guerra e Paz foram suas últimas pinturas e são suas obras mais conhecidas. Encomendadas pelo governo brasileiro, elas retratam os seres humanos em tempos de paz e em tempos de guerra. A obra é distribuída em dois painéis que estão hoje no prédio das Nações Unidas. Esse seu derradeiro trabalho parece não só se inspirar no quadro Guernica, de Picasso, mas também superá-lo.


No painel da Paz, vê-se pessoas alegres, pulando, dançando, cantando, levando uma vida normal. Portinari usa nele tons mais amenos para que se possa sentir a luz que paira sobre nós quando temos épocas pacíficas, tempo em que as ideias podem florescer e as pessoas podem se amar sem reservas.


No painel da Guerra, vê-se pessoas tristes, com expressões de medo, desespero e consternação Portinari usa nele tons mais escuros para que se possa sentir os gritos de desalento vindos das pessoas que sofrem durante a Guerra.


Ainda no da Guerra, o pintor retrata os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, figuras recorrentes no imaginário ocidental em se tratando de épocas difíceis e tenebrosas.

15. O Cristo/Complacência, Vicente Caruso, sem data

Poucos sabem quem foi Vicente Caruso e qual é sua importância pra arte de São Paulo, mas não há dúvidas que a maioria das pessoas de São Paulo já topou com pelo menos uma de suas obras durante a vida, mesmo que não tenham se dado conta. A imagem de Cristo feita por ele é inegavelmente uma das mais famosas na América Portuguesa. Durante muito tempo, as pessoas mantinham em casa cópias da famosa obra do pintor para que pudessem ter um quadro de Cristo em seu lar. Se Caruso tivesse pintado apenas o Cristo em sua vida, já poderia ter se sentido pleno, tamanha é sua importância para nós.



E você? Acha que há alguma obra que deveria ter entrado nessa lista ou que deva entrar numa próxima? Qual é a sua obra de arte paulista favorita? Divida connosco!

- Lucas Pupile 

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