Quando os europeus chegaram ao território em que hoje se encontra São Paulo, existiam diversas nações indígenas já estabelecidas. Com a interação entre os europeus e esses outros povos uma cultura nova foi se formando aos poucos. Ela tinha elementos de ambos os continentes. Incorporava princípios e generalidades do Velho Mundo e alguns costumes dos povos aliados nativos da América. Esses hábitos locais ajudavam o europeu a se adaptar à realidade do novo continente. Uma base europeia com substrato indígena.
«Apertando o Lombilho», do grande pintor paulista Almeida Júnior.
Ao passo que os Paulistas permaneceram com a religião Cristã, incorporaram o tereré dos guaranis, os hábitos alimentares dos tupiniquins e dos marranos e desenvolveram um idioma único, casamento dos dois mundos, a Língua Geral Paulista, entre outros elementos. Essa cultura pode ser chamada tanto de paulista, quanto de caipira (e tem a cultura caiçara como um de seus subgêneros, pois os caiçaras são os caipiras do mar) e no processo de expansão de SP, ela foi levada pra uma grande extensão de terra que compreendia desde regiões ao sul do rio Uruguai até lugares à beira do Araguaia e ao sul do Amazonas.
Em resumo, nossos Bandeirantes, ao fundar cidades distantes, conduziram essa cultura única pela maior parte da América Portuguesa. Quando a Língua Geral Paulista foi banida pelo Marquês de Pombal, os paulistas dessas regiões passaram a falar português, mas essa fala ainda levava profundas marcas da extinta língua. Esse era o dialeto caipira, falado antigamente desde o litoral de SP, passando pelo planalto até as fronteiras da capitania de São Paulo. E mesmo onde esse falar perdeu força, como na capital, ele ainda deixou traços nos falares modernos. No restante do território, esses traços ainda existem, mesmo nas grandes cidades, como Campinas, Maringá, Campo Grande e outras.
Território da antiga capitania de São Paulo
Da mesma forma, a comida vive, seja nas metrópoles ou no interior. Um fenômeno interessante é que pratos como o leitão à pururuca, cuscuz caipira de legumes, pamonha, arroz tropeiro, bolinho caipira, vaca atolada, frango caipira, o furrundum, farofa de linguiça, fraldinha em panela de ferro, caipirinha, a paçoca de amendoim, o feijão tropeiro, a canjica com costelo de porco, o virado à paulista, afogado, bolinho de mandioca, rabada, o angu, pé-de-moleque, a cabidela miúda, quentão, farofa de içá, rosquinhas de pinga, o doce de bananinha e outros são conhecidos com o nome da culinária local (além de paulista e caipira), como «cozinha mineira», «cozinha goiana» entre outros.
Na música, temos a moda de viola caipira, o sertanejo de raiz e o sertanejo moderno. Grandes nomes como Renato Teixeira, Tonico e Tinoco, Inezita Barroso, Almir Sater, Sérgio Reis, Victor e Leo, Paula Fernandes e outros fazem parte do legado civilizacional e cultural dos Paulistas. Entre as danças figuram o fandango, a catira/caterê, o cururu (ciranda de roda) e outras.
Nem o processo de cosmopolitização conseguiu apagar os traços ancestrais que os Bandeirantes deixaram. Mesmo na capital ainda podemos ver os pratos típicos, o jeito caipira de falar, o sertanejo e outros elementos, em maior ou menor grau. Há muito que ser reavivado, sim, mas a base cultural não foi perdida. E São Paulo, diante da crise de identidade por que passa, deve olhar pro seu próprio legado a fim de reavivar a própria cultura. É hora de olhar pro Centro-Oeste não como diferente de nós, mas como a região que conserva todos os hábitos que os nossos ancestrais cultivavam.
Nesses territórios estão 90 milhões de pessoas que têm a mesma origem cultural e que são distintas das outras nações do Brasil. Essa é a Nação Caipira. Esses são os Países Paulistas, a modelo dos «Països Catalanes» (Países Catalães). Esse tanto de gente compartilha a mesma história e formação e os indivíduos devem contribuir uns com os outros pro processo de independência de Brasília, aquela que nos escraviza. O Brasil não pode suportar tantas culturas dentro de si, pois a tendência é a eliminação daquelas que não estão adequadas à «cultura central», do Samba, Carnaval e tropicalismos estereotipados. Votar pra permanecer com o Brasil é ser a favor do genocídio cultural que tem ocorrido nessas terras desde sempre e cujas consequências podem ser vistas em boa parte de São Paulo. A maioria de nós não se enquadra no estereótipo de ser brasileiro e ao mesmo tempo que não temos acesso à cultura ancestral, somos muitas vezes desestimulados a aprender e conhecer sobre a cultura local. É hora de findar esse ciclo de destruição. Os antigos territórios paulistas têm povos com um laço eterno de amizade e que devem colaborar entre si pro progresso mútuo. Agora é tempo de despertar.
Viva São Paulo! Viva o caipirismo! Viva a paulistude!
Material de apoio:
- JAPUR, Jamile. Cozinha Tradicional Paulista (1963)
- MARTIUS, C. F. P. v.. Ethnographie und Sprachenkunde Amerika's zumal Brasilien (1867) [Disponível em: http://migre.me/vuHrY]
Nenhum comentário:
Postar um comentário