quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

10 Curiosidades Históricas de Santos

Santos é uma das cidades mais antigas da Nação Paulista. Em seus tempos de jovem, a então vila serviu como importante porto da capitania, suplantando São Vicente devido à sua posição mais segura na ilha de mesmo nome.



Dela também partiram Bandeiras e Entradas, algo retratado nos vitrais do Palácio Saturnino de Brito nos dias de hoje.
Vitral retratando as Bandeiras Paulistas, Palácio Saturnino de Brito, Santos. Autoria de Conrado Sorgenicht Filho.
Porém, isso é assunto pra tratar em outra ocasião, pois merece um artigo próprio. Hoje, trazemos 10 curiosidades históricas da cidade em ordem cronológica. Confira!

1. A CIDADE COMEÇOU COM UM... HOSPITAL 

Matriz colonial de Santos, por Benedito Calixto.
Santos se iniciou com o povoado de Enguaguaçu, no norte da ilha de São Vicente. A vida da aldeia girava em torno do plantio até 1543, quando Dom Brás Cubas conseguiu que o porto da capitania fosse transferido pro vilarejo. Por causa disso, também se engajou na construção de um hospital, apenas 45 anos após os Atos de Misericórdia de Lisboa, sendo o primeiro da América, pra dar assistência aos enfermos, inválidos e expostos, a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos de Enguaguaçu, de onde, segundo a tradição oral, provém o nome da cidade. A elevação à condição de vila veio dois anos após, em 1545.

2. FOI SAQUEADA POR PIRATAS

 Cartão postal de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, no livro Lembranças de São Paulo. Imagem do blog Cafepasa.
Os ataques piratas eram comuns no litoral paulista nos primeiros séculos de habitação da região, numa época em que as relações entre a Inglaterra, os Países Baixos e a Espanha eram as piores possíveis. Em 1615, piratas holandeses chegaram à vila com o objetivo de saquear tudo. A população, desesperada, sabendo que os piratas acabavam com a vida de todos sem maior pudor, refugiou-se nas igrejas. Porém, os piratas eram protestantes e não respeitavam o princípio do solo sagrado e destruíam os templos e imagens. Sendo assim, Bartolomeu Fernandes, filho do Mestre Bartolomeu, guiou centenas de pessoas pro Morro do Desterro. Chegando lá, retirou uma rocha e mostrou os túneis que ele e seu pai estavam construindo já havia décadas. Eles davam até a região da Nova Cintra (na época, Tachinho), onde seria possível seguir até São Vicente a pé.

Em Santos, a capela da Santa Virgem de Montserrat, cuja imagem acredita-se ter sido levada por São Lucas até o Monte Serreado da Catalunha.
Temendo pela vida, a multidão fervorosa começou a rezar para a Virgem Negra, Nossa Senhora do Montserrat, padroeira da Catalunha. Havia uma capela em homenagem a ela no Morro do Desterro e acreditava-se que ela os protegeria por ser a detentora do morro. Como que por milagre (talvez pela vibração do morro), houve um deslizamento e o túnel foi bloqueado. A tripulação de Spilbergen, o capitão-pirata, não pôde ceifar aquelas vidas e nunca entendeu como a quase totalidade dos habitantes havia desaparecido.

Esse foi considerado o primeiro milagre da Virgem Negra em Santos, fazendo com que ela substituísse Santa Catarina de Alexandria como padroeira e também que o morro passasse a se chamar Monte Serrat, em honra ao Monte Serreado que fica a 50 km de Barcelona.

3. FOI LAR DE DUAS FIGURAS IMPORTANTÍSSIMAS PRA PRÓPRIA ÉPOCA

Bartolomeu de Gusmão, por Benedito Calixto, 1902.
Joris Van São dois membros da família Gusmão. O primeiro deles, Bartolomeu, foi o verdadeiro inventor do aeróstato/balão de ar quente. O segundo, Alexandre, foi o responsável por assegurar a legitimidade das terras conquistadas pelos Bandeirantes, estabelecendo em 1750 o Tratado de Madrid - que substituiu o Tratado de Tordesilhas - em negociações com o monarca espanhol da época, Fernando VI. O tratado, baseado no princípio do uti possidetis, ita possideatis, que garante a posse da terra pra quem verdadeiramente a ocupa. Graças ao diplomata, o Reino de Portugal deu o primeiro passo para cessar as contendas com a Espanha acerca do território sul-americano.

4. E TAMBÉM DO PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA

Retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva, pintado por Benedito Calixto em 1902.
Os irmãos Andrada, dentre eles José Bonifácio, nasceram e viveram em Santos. Os três foram os principais responsáveis pela independência do Brasil em relação a Portugal. Foi José Bonifácio que guiou o príncipe regente a romper politicamente com a antiga metrópole e conduziu a formação do país, servindo como figura ativa no segundo reinado. Embora amigos no início, a família rompeu com o imperador quando este deu um golpe e encerrou a constituinte em 1823, no episódio conhecido como a Noite da Agonia. Pra provocar os Andradas, Pedro I nomeou sua principal concubina como Marquesa de Santos.

5. ALÉM DISSO, LUTOU ATIVAMENTE CONTRA A ESCRAVIDÃO

Matéria n'A Tribuna sobre o Quilombo do Jabaquara e Quintino de Lacerda. Foto da Irmandade São Benedito.
A cidade abrigava o quilombo do Jabaquara, um dos maiores da América Portuguesa, instalado nas terras de Quintino de Lacerda, um negro alforriado que foi voz ativa no movimento de resistência à escravidão. O local chegou a servir de morada pra 10 mil escravos fugidos das regiões cafeeiras do resto de São Paulo. A escolha de Santos se deu porque os moradores eram engajados em promover a liberdade, no início acolhendo negros fugidos em suas próprias casas, depois os refugiando em quilombos, até a abolição santista em 1886, quando os esforços se concentraram na resistência ante aos escravagistas da capital do Império e de outros locais do Brasil.


6. NO SÉCULO XIX SOFREU IMENSAMENTE COM PRAGAS E DOENÇAS

Rampa do Porto do Bispo, em Santos, em 1900. Tela de Benedito Calixto.
Por ser uma cidade portuária, Santos recebia navios e pessoas de todos os lugares do mundo. Além disso, pragas - como ratazanas, baratas e escorpiões - inundavam a cidade, que reside em um manguezal, portanto alagável. Pra resolver o problema, em 1900, começaram a ser executadas as obras de drenagem, que resultaram nos canais de Santos. Os urbanistas responsáveis foram Saturnino de Brito e Miguel Presgrave. Além da diminuição das pragas e doenças, os canais embelezaram a cidade e deram origem à divisão em zonas, nomeadas pelos moradores de acordo com o número/nome do cana.

7. JÁ NO SÉCULO XX PROSPEROU COM O CAFÉ

Carte Générale de l'État de São Paulo, obra do Comissariado Geral do Governo de São Paulo em Bruxelas, 1910.
Enquanto detentora do principal porto da província, Santos servia pra que se escoasse o café do maior produtor do mundo, São Paulo, que detinha mais da metade da produção do planeta, e também das partes meridionais da América Portuguesa, como Minas e Paraná. Em 1922, foi inaugurada a Bolsa do Café, local onde havia os pregões que definiam o preço e a venda do café. Graças a essa reformulação do porto pra que fosse capaz de despachar tanto café, ele se tornou o porto mais importante e movimentado da América Latina.

8. NÃO SÓ LUTOU CONTRA A PIOR DITADURA DA HISTÓRIA BRASILEIRA, A DE VARGAS


Cerca de três mil santistas se alistaram pra combater por São Paulo, contra o ditador Getúlio Vargas em 1932, sendo também importante pilar do sustento da Revolução Constitucionalista devido à grande presença da população na Campanha do Ouro. Infelizmente, o ditador conseguiu fazer o bloqueio do principal porto dos paulistas, sendo esse o também o mais berrante motivo da nossa derrota. Hoje em Santos há diversas homenagens à bravura da população, dentre elas a Fonte 9 de Julho e o memorial da Revolução de 1932.

9. COMO TAMBÉM PERDEU A PRÓPRIA AUTONOMIA DURANTE O REGIME MILITAR

Povo festejando a volta da autonomia santista em 1984 em foto d'A Tribuna, via Novo Milênio.
A cidade, por sua posição estratégica enquanto principal porto do país, havia perdido sua autonomia em 1930, com a extinção do legislativo. A volta desta ocorreria em 1936. Porém, os militares de 1964 também anularam a independência da cidade quando a enquadraram como área de segurança nacional. Assim, ficavam inválidas as liberdades individuais, os princípios constitucionais e a legislação civil. O fim da repressão ocorreria apenas em 1984, após intensos protestos e apelos ao governo central.

10. CONTUDO PERMANECE SENDO UM DOS PILARES DA CIVILIZAÇÃO PAULISTA

Panorama de Santos, por Roberto Smera, via Cidade de Santos.
Não se pode negar o papel importante de Santos na História Paulista. A cidade ajudou a conceber e moldar a Nação, atando-se de tal forma a ela que não é possível pensar num São Paulo sem Santos ou numa Santos sem São Paulo. Esse papel de protagonista é mantido ainda hoje, fazendo-nos pensar que seus cidadãos ainda vão cumprir muitas missões mais pela Civilização Paulista. Que a garra santista seja eterna!

Referências: 


A Tribuna
Da Praia de Santos
Novo Milênio

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