Dela também partiram Bandeiras e Entradas, algo retratado nos vitrais do Palácio Saturnino de Brito nos dias de hoje.
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Vitral retratando as Bandeiras Paulistas, Palácio Saturnino de Brito, Santos. Autoria de Conrado Sorgenicht Filho. |
1. A CIDADE COMEÇOU COM UM... HOSPITAL
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Matriz colonial de Santos, por Benedito Calixto. |
Santos se iniciou com o povoado de Enguaguaçu, no norte da ilha de São Vicente. A vida da aldeia girava em torno do plantio até 1543, quando Dom Brás Cubas conseguiu que o porto da capitania fosse transferido pro vilarejo. Por causa disso, também se engajou na construção de um hospital, apenas 45 anos após os Atos de Misericórdia de Lisboa, sendo o primeiro da América, pra dar assistência aos enfermos, inválidos e expostos, a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos de Enguaguaçu, de onde, segundo a tradição oral, provém o nome da cidade. A elevação à condição de vila veio dois anos após, em 1545.
2. FOI SAQUEADA POR PIRATAS
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Cartão postal de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, no livro Lembranças de São Paulo. Imagem do blog Cafepasa. |
Os ataques piratas eram comuns no litoral paulista nos primeiros séculos de habitação da região, numa época em que as relações entre a Inglaterra, os Países Baixos e a Espanha eram as piores possíveis. Em 1615, piratas holandeses chegaram à vila com o objetivo de saquear tudo. A população, desesperada, sabendo que os piratas acabavam com a vida de todos sem maior pudor, refugiou-se nas igrejas. Porém, os piratas eram protestantes e não respeitavam o princípio do solo sagrado e destruíam os templos e imagens. Sendo assim, Bartolomeu Fernandes, filho do Mestre Bartolomeu, guiou centenas de pessoas pro Morro do Desterro. Chegando lá, retirou uma rocha e mostrou os túneis que ele e seu pai estavam construindo já havia décadas. Eles davam até a região da Nova Cintra (na época, Tachinho), onde seria possível seguir até São Vicente a pé.
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Em Santos, a capela da Santa Virgem de Montserrat, cuja imagem acredita-se ter sido levada por São Lucas até o Monte Serreado da Catalunha. |
Temendo pela vida, a multidão fervorosa começou a rezar para a Virgem Negra, Nossa Senhora do Montserrat, padroeira da Catalunha. Havia uma capela em homenagem a ela no Morro do Desterro e acreditava-se que ela os protegeria por ser a detentora do morro. Como que por milagre (talvez pela vibração do morro), houve um deslizamento e o túnel foi bloqueado. A tripulação de Spilbergen, o capitão-pirata, não pôde ceifar aquelas vidas e nunca entendeu como a quase totalidade dos habitantes havia desaparecido.
Esse foi considerado o primeiro milagre da Virgem Negra em Santos, fazendo com que ela substituísse Santa Catarina de Alexandria como padroeira e também que o morro passasse a se chamar Monte Serrat, em honra ao Monte Serreado que fica a 50 km de Barcelona.
3. FOI LAR DE DUAS FIGURAS IMPORTANTÍSSIMAS PRA PRÓPRIA ÉPOCA
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Bartolomeu de Gusmão, por Benedito Calixto, 1902. |
Joris Van São dois membros da família Gusmão. O primeiro deles, Bartolomeu, foi o verdadeiro inventor do aeróstato/balão de ar quente. O segundo, Alexandre, foi o responsável por assegurar a legitimidade das terras conquistadas pelos Bandeirantes, estabelecendo em 1750 o Tratado de Madrid - que substituiu o Tratado de Tordesilhas - em negociações com o monarca espanhol da época, Fernando VI. O tratado, baseado no princípio do uti possidetis, ita possideatis, que garante a posse da terra pra quem verdadeiramente a ocupa. Graças ao diplomata, o Reino de Portugal deu o primeiro passo para cessar as contendas com a Espanha acerca do território sul-americano.
4. E TAMBÉM DO PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA
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Retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva, pintado por Benedito Calixto em 1902. |
Os irmãos Andrada, dentre eles José Bonifácio, nasceram e
viveram em Santos. Os três foram os principais responsáveis pela
independência do Brasil em relação a Portugal. Foi José Bonifácio que
guiou o príncipe regente a romper politicamente com a antiga metrópole e
conduziu a formação do país, servindo como figura ativa no segundo
reinado. Embora amigos no início, a família rompeu com o imperador
quando este deu um golpe e encerrou a constituinte em 1823, no episódio
conhecido como a Noite da Agonia. Pra provocar os Andradas, Pedro I nomeou sua principal concubina como Marquesa de Santos.
5. ALÉM DISSO, LUTOU ATIVAMENTE CONTRA A ESCRAVIDÃO
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Matéria n'A Tribuna sobre o Quilombo do Jabaquara e Quintino de Lacerda. Foto da Irmandade São Benedito. |
A cidade abrigava o quilombo do Jabaquara, um dos maiores da América Portuguesa, instalado nas terras de Quintino de Lacerda, um negro alforriado que foi voz ativa no movimento de resistência à escravidão. O local chegou a servir de morada pra 10 mil escravos fugidos das regiões cafeeiras do resto de São Paulo. A escolha de Santos se deu porque os moradores eram engajados em promover a liberdade, no início acolhendo negros fugidos em suas próprias casas, depois os refugiando em quilombos, até a abolição santista em 1886, quando os esforços se concentraram na resistência ante aos escravagistas da capital do Império e de outros locais do Brasil.
6. NO SÉCULO XIX SOFREU IMENSAMENTE COM PRAGAS E DOENÇAS
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Rampa do Porto do Bispo, em Santos, em 1900. Tela de Benedito Calixto. |
Por ser uma cidade portuária, Santos recebia navios e pessoas de todos os lugares do mundo. Além disso, pragas - como ratazanas, baratas e escorpiões - inundavam a cidade, que reside em um manguezal, portanto alagável. Pra resolver o problema, em 1900, começaram a ser executadas as obras de drenagem, que resultaram nos canais de Santos. Os urbanistas responsáveis foram Saturnino de Brito e Miguel Presgrave. Além da diminuição das pragas e doenças, os canais embelezaram a cidade e deram origem à divisão em zonas, nomeadas pelos moradores de acordo com o número/nome do cana.
7. JÁ NO SÉCULO XX PROSPEROU COM O CAFÉ
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Carte Générale de l'État de São Paulo, obra do Comissariado Geral do Governo de São Paulo em Bruxelas, 1910. |
Enquanto detentora do principal porto da província, Santos servia pra que se escoasse o café do maior produtor do mundo, São Paulo, que detinha mais da metade da produção do planeta, e também das partes meridionais da América Portuguesa, como Minas e Paraná. Em 1922, foi inaugurada a Bolsa do Café, local onde havia os pregões que definiam o preço e a venda do café. Graças a essa reformulação do porto pra que fosse capaz de despachar tanto café, ele se tornou o porto mais importante e movimentado da América Latina.
8. NÃO SÓ LUTOU CONTRA A PIOR DITADURA DA HISTÓRIA BRASILEIRA, A DE VARGAS
Cerca de três mil santistas se alistaram pra combater por São Paulo, contra o ditador Getúlio Vargas em 1932, sendo também importante pilar do sustento da Revolução Constitucionalista devido à grande presença da população na Campanha do Ouro. Infelizmente, o ditador conseguiu fazer o bloqueio do principal porto dos paulistas, sendo esse o também o mais berrante motivo da nossa derrota. Hoje em Santos há diversas homenagens à bravura da população, dentre elas a Fonte 9 de Julho e o memorial da Revolução de 1932.
9. COMO TAMBÉM PERDEU A PRÓPRIA AUTONOMIA DURANTE O REGIME MILITAR
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Povo festejando a volta da autonomia santista em 1984 em foto d'A Tribuna, via Novo Milênio. |
A cidade, por sua posição estratégica enquanto principal porto do país, havia perdido sua autonomia em 1930, com a extinção do legislativo. A volta desta ocorreria em 1936. Porém, os militares de 1964 também anularam a independência da cidade quando a enquadraram como área de segurança nacional. Assim, ficavam inválidas as liberdades individuais, os princípios constitucionais e a legislação civil. O fim da repressão ocorreria apenas em 1984, após intensos protestos e apelos ao governo central.
10. CONTUDO PERMANECE SENDO UM DOS PILARES DA CIVILIZAÇÃO PAULISTA
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Panorama de Santos, por Roberto Smera, via Cidade de Santos. |
Não se pode negar o papel importante de Santos na História Paulista. A cidade ajudou a conceber e moldar a Nação, atando-se de tal forma a ela que não é possível pensar num São Paulo sem Santos ou numa Santos sem São Paulo. Esse papel de protagonista é mantido ainda hoje, fazendo-nos pensar que seus cidadãos ainda vão cumprir muitas missões mais pela Civilização Paulista. Que a garra santista seja eterna!
Referências:
Da Praia de Santos
Novo Milênio