segunda-feira, 8 de maio de 2017

Almeida Júnior, o maior talento da Pintura Paulista

 
Imagem confeccionada por Vinícius Lima, da Equipe OSP.

Almeida Júnior é o nosso mais fabuloso pintor e hoje completam-se 167 anos de seu nascimento. Tendo partido cedo pra estudar na França como discípulo de Alexandre Cabanel, o pintor voltou com as mais avançadas técnicas artísticas e se consagrou como o maior pintor Paulista de todos os tempos, representando principalmente o Realismo.

Nosso nobre artista viveu os últimos anos da Monarquia e na República das Espadas. Essa época era caracterizada pelo menosprezo às figuras regionais, vistas como incivilizadas e representantes da desunião nacional (o que só mudaria, ainda que pouco, com o advento da Constituição de 1891). Mas ao contrário de seus contemporâneos, o ituano não viu o caipira pejorativamente, como exemplo duma espécie degradada e impotente ou simplesmente como miseráveis. Mais do que isso, viu «herdeiros duma tradição gloriosa para os Paulistas», em suas palavras.
O Violeiro, 1899, Realismo. Atualmente se encontra na Pinacoteca de São Paulo.
 Em algumas publicações da época, louvaram o pintor que «com uma paciência de beneditino estudava toda a vida paulista no seu estado de pureza primitiva». Sua produção fazia questão de retratar São Paulo na sua ancestralidade simples e cabocla, aquela ancestralidade que o paulista de hoje (e, mais acentuadamente, o paulistano) tanto luta por esquecer.


Nessa pintura, «Nhá Chica», de 1895, vemos a figura feminina, tão presente na obra desse Paulista. A modelo é mostrada na janela, usando roupas simples: uma blusa branca de decote redondo sob uma saia cor-de-rosa, com pequenas estampas brancas e várias pregas. No pescoço, ela traz um cordão que vai se esconder debaixo da blusa, possivelmente com uma medalha, tão comum à época.




Nhá Chica, 1895, Realismo. Atualmente se encontra na Pinacoteca de São Paulo.
Nhá Chica, com seu enorme pito, olha para fora da janela com um olhar distante, como se não enxergasse nada além da saudade. Acima do pito pode-se ver a fumaça que sai do canto esquerdo de sua boca, em direção à abertura da janela. Seu rosto sereno e envelhecido, visto de perfil, mostra inúmeras rugas, retrato de sua experiência de vida. O cabelo preso num coque, deixa cair alguns fios pela testa. A mão direita, com suas veias salientes e dedos maltratados, próxima à tramela, descansa sobre o peitoril de madeira da janela, onde também se encontra uma cafeteira de lata. 

Assim como em «Saudade» (1899), o personagem da tela está num ângulo em que não pode ver aquele que o assiste. Almeida deixa o observador livre pra olhar, sem jamais temer que a pessoa do quadro olhe pra si, como parece olhar a Monalisa, na tela de Da Vinci.

Saudade, 1899. Atualmente se encontra na Pinacoteca de São Paulo.
E é por sua genialidade, bem como sua fidelidade às raízes que é considerado o maior pintor que a Nação Paulista já teve. Ninguém na pintura conseguiu representar tão bem a nossa alma quanto ele.

Artigo inspirado no trabalho acadêmico de Rodrigo Naves, «Almeida Júnior, o sol no meio do caminho».

- Lucas Pupile 

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