quinta-feira, 15 de junho de 2017

Sönksen: A Fantástica Fábrica de Chocolates Paulista


O icônico logotipo, presente em todas as embalagens e reconhecido de longe pelos olhos dos consumidores. Créditos: São Paulo Antiga.

Se hoje, São Paulo pode se orgulhar por ser berço de uma das maiores marcas de chocolate do mundo, a Cacau Show, também merece lembrança outra grande empresa que marcou gerações e se transformou em lenda: a Sönksen. Apelidada de "a fantástica fábrica de chocolate paulista", em alusão ao livro de 1964 cujo personagem principal é Willy Wonka, esta famosa marca operou por mais de 100 anos, fabricando doces sempre com excelência e bom gosto.


Uma das lojas Sönksen: marca inaugurou o conceito de lojas próprias, sistema hoje adotado por empresas paulistas como Kopenhagen e Cacau Show. Créditos: Estadão.

Tudo começou ainda em fins do século XIX, quando São Paulo, especialmente a capital e Santos, começaram a experimentar mudanças causadas pela próspera riqueza que advinha do café e da industrialização. De repente, um lugar totalmente isolado e com vida própria abria as portas ao mundo para receber milhões de pessoas, e junto com elas novidades tecnológicas, produtos novos e uma vasta infinidade de "modernidades". Foi neste contexto que Alfredo Richter, em 1888, abre a La Bomboniere, uma das primeiras lojas de doces de São Paulo, localizada no centro da capital. Com ajuda de sua mulher, Alwine Sophia Sönksen, que tinha uma visão extremamente arrojada para negócios, transforma a pequena porta comercial em uma "mini-indústria" de doces da região, tornando-se a primeira fábrica de chocolates do país. E desde o seu início, graças à visão de Alwine Sophia, possuía uma grande estratégia de marketing que ia além da venda de chocolates especiais para a Páscoa, sendo comemoradas pela empresa outras datas como Natal e Dia dos Namorados, com produtos únicos e exclusivos.

Entretanto, um revés acometeu a empresa: em 1904, seu fundador falece, e Sophia decide vender a empresa para um investidor, João Faulhammer. João, buscando atender ao crescimento da empresa, limitado pelas pequenas instalações do bairro da Sé, inicia a construção de uma fábrica fora da região central, na Rua Vergueiro na região da Liberdade, um projeto ousado para o que era até então uma doceria com uma pequena produção industrial. Endividado, o empresário se vê obrigado a colocar a empresa a venda, e aproveitando a oportunidade, Sophia e mais dois irmãos Sönksen readquirem a companhia e alugam o prédio da fábrica ainda em construção: em 1912, estava fundada a Christian Sönksen & Cia., que já contava com uma segunda loja na Rua XV de Novembro. Mas as relações entre as duas famílias não se encerram aí: em 1920, a filha de João Faulhammer se casa com um dos proprietários, Augusto Sönksen, e se torna uma dentre as mulheres que, com visão e empreendedorismo, motivaram o crescimento da empresa ao longo das décadas iniciais do século XX.

Seguiu-se então um crescimento meteórico, destacando-se não só os chocolates, mas as famosas balas que todos que provaram dizem que eram de um gosto inesquecível. Motivou também a criação de outras lojas inicialmente dentro de São Paulo capital e em seguida também de outras cidades, como Santo André, sendo precursora do sistema de lojas próprias, receita seguida com sua "herdeira cultural", a Cacau Show, e outras empresas como Kopenhagen e Ofner. Era o diferencial ante a grandes fábricas como Nestlé e Garoto, que não possuíam lojas exclusivas de suas marcas, sendo encontradas apenas em supermercados e empórios.

Sucesso absoluto de vendas, os produtos da Sönksen conquistavam de crianças a adultos. Créditos: São Paulo Antiga.

A linha de produtos era vasta, mas destacam-se as balas vendidas em latas de metal, cujos sabores contavam até com opções de cevada e amendoim, e o famoso "Urso Marrom", um tablete de chocolate ao leite fino. Contava também com opções variadas de caixas e tabletes de bombons, barras, balas, pães de mel, línguas de gato e outros produtos hoje comuns, mas raros para a época: eram 150 produtos diferentes. E esqueça Nestlé, Garoto e outras: a Sönksen foi, por muitas décadas, líder do mercado nacional de chocolates e doces.

Entretanto, como era uma empresa familiar, começaram a haver problemas quanto à sucessão administrativa. A empresa, por volta da década de 1960, com seus proprietários já envelhecidos, "parou no tempo", com um sistema de distribuição de produtos antiquado e desinteresse por parte de alguns herdeiros. Passada de mão algumas vezes a partir de 1977, quando foi vendida pela família endividada mas ainda detentora de 30% do mercado, é adquirida pela sua maior concorrente no varejo de chocolates, a Casa Falchi. Entretanto, devido a uma série de fatores, Sönksen e Falchi caminharam juntas para o fim, anunciado em meados de 1983. 

Já em período de falência, a empresa seguiu a produção por mais algum tempo, quando os atrasos nos salários motivaram uma greve que culminou com o incêndio e destruição da fábrica, quase 100 anos depois daquele modesto início como uma pequena venda na Rua Líbero Badaró, e cuja trajetória foi marcada por mulheres empreendedoras e ambiciosas, que a transformaram numa das principais empresas de alimentos do país, marcando gerações e sendo elevada à categoria de "lenda" para os que infelizmente não puderam provar os sabores da Sönksen. 

Hoje, as caixas em lata das famosas "azedinhas" são objetos vintage e disputadas a tapas em leilões e antiquários. Foto: Estúdio Fainhand.

Por Thales Veiga.


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