Almeida Júnior as retratou num fabuloso quadro chamado «A Partida da Monção», cujo estudo abre este artigo. Nosso mais insigne pintor mergulhou em dois anos de pesquisas antes de começar a pintar a obra final.
O trabalho mereceu minucioso estudo, pois trataria dum dos episódios que mais são dignos de orgulho aos Paulistas: as Monções, ou seja, as expedições fluviais que mantiveram as comunicações entre a capitania de São Paulo e a do Mato Grosso, tendo sido responsáveis em grande parte pela colonização do centro-oeste da América Lusófona, após o declínio das Bandeiras.
Esse termo, «Monções», foi escolhido por coincidir com o período das viagens de Portugal para o Oriente (de março a abril), a época em que os ventos eram favoráveis a esse tipo de movimentação. (CAVALCANTE, 2011)
Elas se iniciaram em 1718, quando o Bandeirante Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro em Cuiabá, o que iniciou uma nova corrida pelo metal precioso. Posteriormente, essas expedições tornaram-se regulares e o seu objetivo passou a ser também comercial e militar, visando ao abastecimento e defesa dos mineradores de Cuiabá, Vila Bela e demais povoações surgidas em decorrência da mineração. (FERNANDES, 2015)
Por meio das monções, os bovinos foram introduzidos no Mato Grosso.
O Trajeto
Mapa das Rotas Monçoeiras, de Vinícius Lima
A viagem partia da atual Porto Feliz (antiga Araritaguaba) e seguia pelo Tietê até o rio Paraná, então avançava pelo rio Pardo até os afluentes do rio Paraguai, chegando ao rio São Lourenço, que enfim os deixava no rio Cuiabá.
Segundo Taunay, fazendo-se as devidas conversões de milhas para quilômetros, os Paulistas percorriam uma distância de 3664 km, incluindo-se o percurso de 155 km de São Paulo até Araritaguaba.
Segundo Taunay, fazendo-se as devidas conversões de milhas para quilômetros, os Paulistas percorriam uma distância de 3664 km, incluindo-se o percurso de 155 km de São Paulo até Araritaguaba.
A seguir a tabela das distâncias revisada a partir de georreferenciamento. (BRAZIL; DANIEL, 2008)
Ainda nos dias de hoje, a festa mais tradicional da cidade de Porto Feliz é a Semana das Monções, que acontece quase todos os anos em outubro, na época do aniversário da localidade.
Apesar de a antiga Araritaguaba ser diferente da atual Porto Feliz, a memória coletiva dos cidadãos ainda guarda muito daquilo que aconteceu. A obra de Almeida Júnior nos faz voltar no tempo para apreciar como tudo se desenrolava.
No quadro que abre essa postagem, podemos ver, ao fundo, uma paisagem descontínua, que à direita do espectador configura-se como uma mata ribeirinha, e, à esquerda, temos o rio emoldurado em um horizonte enevoado.
À direita, num plano intermediário, encontramos o sacerdote que abençoa aqueles que partem. Ao seu redor, tanto no primeiro plano quanto ao fundo, temos dois diferentes personagens que ali se encontram para despedir-se dos que se entregam à viagem.
Do outro lado, à esquerda, num contínuo decrescente entre a margem do rio, no primeiro plano, e as canoas já prontas, nos planos subsequentes, temos os «monçoeiros», onde quase todos dedicam a atenção à benção do pároco. E tudo isso feito por Almeida Júnior, o mestre que conseguia retratar como ninguém os tipos humanos Paulistas, fossem eles dotados de satisfação, tristeza, coragem, heroísmo ou devoção.
Para se ter uma noção do quão importante são os Bandeirantes e os Monçoeiros na história da América do Sul, trazemos a declaração do viajante francês Auguste de Saint-Hilaire ao estudar as Bandeiras e as Monções:
«Depois que se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis dos antigos Paulistas, fica-se como estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes.» (TAUNAY, 2012)
Assim se admiravam os estrangeiros com os Paulistas, pois tais façanhas não encontram similares em qualquer episódio dessa natureza na história de qualquer povo que seja que já tenha habitado esse pequeno Globo. E se os que vinham de fora para presenciar nossa história assim julgavam, por que nós, os Paulistas dos dias de hoje, não devemos ter orgulho do nosso passado e das nossas origens?
É preciso que os Paulistas repensem sua compreensão sobre si próprios para que compreendam que fazem parte duma nação à parte, a nossa Nação Paulista que luta dia a dia para ser livre.
1718 – Descoberta do ouro em Cuiabá por Pascoal Moreira Cabral
1720 – Partida de monção com quatro comboios, dos quais apenas dois chegam às minas de Cuiabá, um deles com gentes e carga de Antônio de Almeida Lara.
1726 – Viagem de ida do governador e capitão-general da capitania de São Paulo, dom Rodrigo César de Meneses (1721-1727), acompanhado por 3 000 pessoas.
1730 – Retorno da monção de 1726. Registra-se ataque dos paiaguás na altura do Xaréu, tendo perecido o ouvidor-geral, Antônio Alves Lanhas Peixoto.
1751 – Partida da monção do governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, dom Antônio Rolim de Moura Tavares.
1785 – Partida da monção que transportou o juiz de fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara Ordoñez e o padre José Manuel de Siqueira.
1788 – Partida da monção do astrônomo e matemático Francisco José de Lacerda, que efetuou observações científicas.
1800 – Partida da expedição militar de Cândido Xavier de Almeida Sousa, que transportou tropas, armamentos e munições para a fronteira sul-matogrossensse.
1826 – Expedição do naturalista russo barão de Langsdorff.
1858 – Última expedição militar, sob o comando do capitão Luís Soares Viegas, transporta armas, munições e petrechos militares para a Província de Mato Grosso.
Por Lucas Pupile
Bibliografia:
CAVALCANTE, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011.
FERNANDES, Luiz Henrique Menezes. Um Governo de Engonços: Metrópole e Sertanistas na Expansão dos Domínios Portugueses aos Sertões do Cuiabá (1721-1728), 2015.
OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Uma leitura de Partida da Monção de Almeida Júnior. Londrina, 2009.
TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História das Bandeiras Paulistas, 2012.
* Taunay apresenta um valor de 3,664 km. ** conversão pela légua brasileira: 6,6 km.
O Legado
Ainda nos dias de hoje, a festa mais tradicional da cidade de Porto Feliz é a Semana das Monções, que acontece quase todos os anos em outubro, na época do aniversário da localidade.
Semana das Monções em Porto Feliz
No quadro que abre essa postagem, podemos ver, ao fundo, uma paisagem descontínua, que à direita do espectador configura-se como uma mata ribeirinha, e, à esquerda, temos o rio emoldurado em um horizonte enevoado.
À direita, num plano intermediário, encontramos o sacerdote que abençoa aqueles que partem. Ao seu redor, tanto no primeiro plano quanto ao fundo, temos dois diferentes personagens que ali se encontram para despedir-se dos que se entregam à viagem.
Do outro lado, à esquerda, num contínuo decrescente entre a margem do rio, no primeiro plano, e as canoas já prontas, nos planos subsequentes, temos os «monçoeiros», onde quase todos dedicam a atenção à benção do pároco. E tudo isso feito por Almeida Júnior, o mestre que conseguia retratar como ninguém os tipos humanos Paulistas, fossem eles dotados de satisfação, tristeza, coragem, heroísmo ou devoção.
«O Vereador vai à Vila», de Belmonte
«Depois que se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis dos antigos Paulistas, fica-se como estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes.» (TAUNAY, 2012)
Assim se admiravam os estrangeiros com os Paulistas, pois tais façanhas não encontram similares em qualquer episódio dessa natureza na história de qualquer povo que seja que já tenha habitado esse pequeno Globo. E se os que vinham de fora para presenciar nossa história assim julgavam, por que nós, os Paulistas dos dias de hoje, não devemos ter orgulho do nosso passado e das nossas origens?
É preciso que os Paulistas repensem sua compreensão sobre si próprios para que compreendam que fazem parte duma nação à parte, a nossa Nação Paulista que luta dia a dia para ser livre.
Cronologia Monçoeira:
1718 – Descoberta do ouro em Cuiabá por Pascoal Moreira Cabral
1720 – Partida de monção com quatro comboios, dos quais apenas dois chegam às minas de Cuiabá, um deles com gentes e carga de Antônio de Almeida Lara.
1726 – Viagem de ida do governador e capitão-general da capitania de São Paulo, dom Rodrigo César de Meneses (1721-1727), acompanhado por 3 000 pessoas.
1730 – Retorno da monção de 1726. Registra-se ataque dos paiaguás na altura do Xaréu, tendo perecido o ouvidor-geral, Antônio Alves Lanhas Peixoto.
1751 – Partida da monção do governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, dom Antônio Rolim de Moura Tavares.
1785 – Partida da monção que transportou o juiz de fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara Ordoñez e o padre José Manuel de Siqueira.
1788 – Partida da monção do astrônomo e matemático Francisco José de Lacerda, que efetuou observações científicas.
1800 – Partida da expedição militar de Cândido Xavier de Almeida Sousa, que transportou tropas, armamentos e munições para a fronteira sul-matogrossensse.
1826 – Expedição do naturalista russo barão de Langsdorff.
1858 – Última expedição militar, sob o comando do capitão Luís Soares Viegas, transporta armas, munições e petrechos militares para a Província de Mato Grosso.
Por Lucas Pupile
Bibliografia:
CAVALCANTE, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011.
FERNANDES, Luiz Henrique Menezes. Um Governo de Engonços: Metrópole e Sertanistas na Expansão dos Domínios Portugueses aos Sertões do Cuiabá (1721-1728), 2015.
OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Uma leitura de Partida da Monção de Almeida Júnior. Londrina, 2009.
TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História das Bandeiras Paulistas, 2012.
Gostaria de pedir a quem puder para que eventos como a Semana das Monções sejam mais divulgados para que possamos participar. São eventos importantes para despertar nosso patriotismo, curar nossa ignorância quanto a nossa própria história e momentos culturais diferentes para a população. Procuro por reconstituições históricas na Europa porque as que existem em São Paulo nada se houve falar e gostaria de poder participar dos eventos de minha própria terra.
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