quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Anna Pimentel: A Primeira Governadora de São Paulo

Martim Afonso e Anna Pimentel, os primeiros governadores do Estado de São Paulo, interpretados por atores locais durante a famosa Encenação da Fundação da Vila de São Vicente, em 2017. Créditos: Jornal da Orla.

Após regressar à Portugal depois da histórica viagem para a América do Sul na qual oficializou como vilas do império português as aldeias de São Vicente e Campos de Piratininga (São Paulo), Martim Afonso ganhou grande prestígio ante o Rei Dom João III, que, em 1533 lhe concedeu a posse da Capitania de São Vicente e, no ano seguinte, o cargo de Capitão-mor das Índias.

A partir então de 1534, Martim Afonso partiu para a Índia, onde era então responsável por cuidar de toda a segurança marítima dos navios e territórios portugueses nos atuais oceanos Índico e Pacífico. Para gerenciar as terras paulistas enquanto estivesse fora, Martim Afonso repassou o governo para sua esposa, Anna Pimentel.

Nascida em Salamanca, Anna pertencia a uma família ligada à corte dos reino de Espanha, sendo prima e uma das melhores amigas de infância e adolescência de Dona Catarina da Áustria, rainha de Portugal. Ainda jovem, se casou com o também jovem Martim Afonso; ambos possuíam muitas coisas em comum, como a elevada inteligência e a busca pelo conhecimento, descritos à época como hoje conhecemos os "nerds". Catarina alfabetizou-se cedo, enquanto Martim Afonso se formou ao mesmo tempo em Matemática, Navegação e Cosmografia. Se conheceram quando ele estava concluindo seus estudos em Castela, em Madrid, se casando em 1523.

A cidade de Salamanca, em Castilla y León, Espanha, berço de Anna Pimentel e que ao longo de sua existência já pertenceu a povos como os romanos e os árabes. Créditos: Erasmusu.

Na mesma semana que Martim partiu, Anna, ainda de Lisboa, mandou plantar na capitania laranja, arroz e trigo, além de implantar a carne na alimentação das crianças paulistas para melhorar a saúde das mesmas. Podemos dizer que ela foi a pioneira no cultivo de laranja em São Paulo, hoje uma das nossas maiores commodities agrícolas, na qual somos líderes mundiais em produção. Também comprou e mandou vir para cá gado da Ilha de Cabo Verde, para iniciar a atividade pecuária na região. Assim seguiu, administrando os negócios a distância e conhecida por sua personalidade "fraca" - fato que mudaria logo após.

Por determinação da governadora, Gonçalo Monteiro, Pero Goes e outros paulistas residentes em São Paulo desceram para o litoral, com um grande contingente de pessoas, para combater na Guerra de Iguape. Entretanto, perdem a batalha, e, animadas, as forças do inimigo Cosme Fernandes invadem, incendeiam e destroem completamente a vila de São Vicente e seu porto. Após isto, Anna decide vir governar pessoalmente, mudando para sempre a história paulista.

Chegando em São Vicente, Anna reorganiza as atividades da capitania e derruba uma lei feita pelo marido que proibia que os vicentinos subissem a Serra do Mar em direção ao interior, propiciando mais tarde a fundação das vilas de São Paulo (re-fundada em 1554), Santo André, Guarulhos, dentre outras; com a nova regra, permitiu também a criação e popularização das Bandeiras que, sabemos, desbravaram o interior do continente americano, criando as riquezas paulistas e moldando o contorno de nosso território como nenhum outro povo aqui fez.

Aspecto original da Vila de São Vicente, réplica construída no Parque Cultural na atual cidade. Créditos da foto: São Vicente.

Conquistando rapidamente um posto de governante ativa e dominadora, firme em suas decisões, também atraiu opositores que não viam com bons olhos uma mulher no comando. Athayde, inimigo pessoal de Martim Afonso, espalhou boatos em Portugal de que era bastante "fogosa" para destruir sua reputação. Anna Pimentel não se abalou e seguiu governando São Vicente. 

Nomeia Braz Cubas como tenente e o auxilia no seu último grande feito como governadora, ajudando na fundação da Vila de Santos, em 1545. No mesmo ano, Martim Afonso retorna a Portugal, após perder o cargo de Capitão-mor do Mar da Índia por motivos ainda não esclarecidos. Desanimados com o governo português, retiram-se de vez das cortes imperiais e, rejeitando todo luxo e riqueza, inclusive seus dois palácios em Lisboa, retornam juntos para São Vicente, onde moraram numa casa muito simples. Neste período, assistem à chegada dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, fundando diversas vilas em nosso interior, e o surgimento da Cultura Paulista caipira, da indústria rudimentar e a descoberta de minas de ouro e pedras preciosas pelos Bandeirantes, além de guerras e batalhas. Assistem também ao tsunami que destruiu mais uma vez a Vila de São Vicente.

Após mais de 10 anos em terras paulistas, retornam a Portugal, onde Martim Afonso falece em 1564 em Lisboa. A viúva Anna, então, retoma o governo de São Vicente sozinha mais uma vez, posto em que permaneceu até 1571, quando também falece, em Lisboa. O governo de São Vicente fica então para seu segundo filho mais velho, Pero Lopes de Souza, já que seu primeiro faleceu quando lutava ao lado do pai.

Retrato de época de Anna Pimentel. Gravura de autor desconhecido.

Portanto, vamos relembrar de nossa primeira governadora, mulher forte e guerreira. Houve ainda mais uma, Mariana de Souza Guerra, de quem falaremos logo mais. Não perca!

Por Thales Veiga.

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